Título: Até Stédile condena depredação da Câmara
Autor: Miguel Portela
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Nacional, p. A9

Líder do MST diz que inimigos dos sem-terra são latifúndio e parlamentares devem ser aliados

O coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, engrossou ontem as críticas aos atos de vandalismo praticados por integrantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) na Câmara. "O MLST se equivocou com o ato porque os nossos inimigos são o latifúndio, os bancos e as empresas transacionais. Os deputados e a Câmara devem ser nossos aliados", disse Stédile.

O líder do MST fez a declaração na 5ª Jornada de Agroecologia que acontece até amanhã em Cascavel, Paraná, e reúne cinco mil agricultores, sem-terra e assentados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Para ele, o ato de vandalismo prejudicará os movimentos sociais.

Stédile destacou que o quebra-quebra pode ter sido incentivado por pessoas infiltradas no movimento e interessadas apenas em criar o tumulto e desviar o foco da discussão da reforma agrária. Ele disse não acreditar que o episódio mude o tratamento dispensado pelo governo federal à reforma agrária.

E voltou a criticar o ritmo de criação de assentamentos no País. "A reforma agrária está parada. Mas mesmo assim, o governo Lula vai continuar tendo o nosso apoio porque consideramos a sua candidatura à Presidência a mais viável para promover as reformas que os movimentos sociais reivindicam."

INVASORES

Algumas lideranças do MLST que participaram do quebra-quebra na Câmara são da região oeste do Paraná, por onde o movimento iniciou as suas atividades, no ano passado, no Estado. O MLST tem dois acampamentos com cerca de 300 famílias na região: um em Cascavel e outro em Lindoeste, a 42 quilômetros de Cascavel. O ex-presidente do Diretório Municipal do PT de Cascavel Joaquim Borges Ribeiro teria planejado a invasão à Câmara. Ele aparece em uma fita de vídeo detalhando o plano da invasão. O acampado Arildo da Silva, de Lindoeste, é acusado de agredir com uma pedrada o diretor de Coordenação de Apoio Logístico de Segurança da Câmara, Normando Fernandes.

Ribeiro e o vereador Aderbal de Mello (PT) organizaram o MLST na região de Cascavel. Além de presidente do PT local, Ribeiro já foi militante do MST e coordenador do orçamento participativo durante a gestão do ex-prefeito de Cascavel Edgar Bueno (2001-2004). Já Arildo é filho de um assentado em Lindoeste. Leopoldo Ribeiro, coordenador do MLST no Paraná, disse que Arildo partiu no domingo, de Lindoeste, com outros 25 colegas para Brasília. "Estou surpreso com as acusações contra ele porque é um rapaz tranqüilo", afirmou Leopoldo.