Título: Ministros dão a largada na campanha
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2006, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou em ritmo lento a campanha pela reeleição, mas uma tropa de ministros está em plena atividade eleitoral, com atribuições já definidas. O titular do Trabalho, Luiz Marinho, vai trabalhar na mobilização dos movimentos sociais. Dilma Rousseff, da Casa Civil, vai defender o presidente diante de ataques da oposição, e fornecer às coordenações petistas regionais informações sobre as ações do governo federal.

Uma das maiores movimentações é de um não-petista: o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, do PTB (MG), um dos partidos envolvidos no escândalo do mensalão, ao lado do PT, PP e PL. Apesar de a pior crise do governo ter começado com a revelação de um petebista, Roberto Jefferson, sobre o esquema de arrecadação ilegal de dinheiro, Mares Guia é muito elogiado pelos petistas. O comando da campanha conta com o bom trânsito do ministro, dono de uma rede de escolas, com os empresários.

Mares Guia foi o primeiro ministro envolvido no escândalo, com a descoberta de um depósito de uma de suas empresas para uma conta do empresário Marcos Valério. A suspeita é de que a operação tenha sido feita para saldar dívidas de caixa 2 da campanha de 1998 do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), de quem Mares Guia era aliado na época. O ministro e o senador Azeredo sempre negaram qualquer envolvimento. Mares Guia teve, desde o início, o apoio de Lula. Outro ministro com o qual o comando petista conta para aproximação com o empresariado, na expectativa de contribuição para a campanha, é Paulo Bernardo, do Planejamento.

Marinho, Dilma, Mares Guia e Paulo Bernardo juntam-se ao mais empenhado entre todos os ministros, Guido Mantega, da Fazenda. Além da defesa do presidente, ao lado de Dilma, e da propaganda dos bons números da economia, Mantega tem também a missão de acalmar os empresários, temerosos de que um possível segundo governo Lula seja menos rigoroso na austeridade fiscal. O empresariado quer conhecer melhor o programa de governo petista. Fala-se em um projeto de cunho mais desenvolvimentista, com intensificação de investimentos, mas ainda não se sabe o que isto significa na prática.

O secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, informa que o partido, e depois o comitê financeiro da campanha, têm pagado as passagens e hospedagem dos ministros em compromissos eleitorais. Foi assim com a visita de Dilma, semana passada, à Bahia. Também serão pagas pelo partido as passagens de ida e volta a São Paulo para Mantega, que comandará um jantar de adesão para empresários, dia 3 de agosto, no Jockey Club. ¿Os ministros estão disponibilizando as agendas para a campanha, fora do expediente. É uma contribuição importante, queremos que se integrem sempre que possível¿, diz Ferreira.

LIMITES

Consultado pelo Estado, o vice-procurador-geral da República e vice-procurador-geral eleitoral (representante do Ministério Público), Francisco Xavier, reconhece a dificuldade de se estabelecer limites para a ação dos agentes públicos nas campanhas. A lei é clara apenas na proibição de fazer campanha durante o expediente e no uso de dependências e bens do governo. No caso da presença de Mantega no jantar com o empresariado, Xavier comenta: ¿O que não pode é o ministro estar a serviço do PT. Mas sempre se dirá que foi o economista Mantega. É como diferenciar quem é o Edson e quem é o Pelé.¿

Segundo o procurador, o abuso do poder político se caracteriza quando um ministro ou outro servidor usa ¿informações privilegiadas de Estado para influenciar o eleitor¿. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o princípio que tem vigorado é o de que a oposição estará sempre alerta à ação dos ministros de Lula e que não hesitará em denunciar possíveis abusos.