Título: Multidão amarela reclama a cadeira de presidente para o líder esquerdista
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2006, Internacional, p. A9

Eles foram chegando de todas as partes, de carro, ônibus, pelo metrô, a pé. Desde o início da tarde de sábado, a Praça da Constituição, que os mexicanos identificam simplesmente como Zócalo, virou a Meca e a Medina para a qual convergiram representantes de associações populares de todo o México. As ruas em torno assistiram, o dia inteiro, ao desfile de pessoas portando cartazes e gritando palavras de ordem. Formavam um mar amarelo, porque a cor de seu candidato, Andrés Manuel López Obrador, é o ouro e todos portavam pelo menos um detalhe de `amarillo¿.

Desde o interior do metrô, os populares já saíam dos trens gritando ¿Obrador! Obrador!¿. O principal acesso, a escadaria que sai no meio da praça gigantesca, foi fechado por segurança. Os grupos avançavam pelas saídas nos cantos da praça. Ao grito do nome de seu candidato, somavam ¿La silla!¿ (A cadeira de presidente). E logo outra palavra de ordem - ¿Calderón! Ladrón!¿ O México tem vivido dias turbulentos, marcados pela participação da sociedade civil, que tem saído às ruas face à gravidade do momento atual. O refresco, nos últimos dias, foi a passagem, pela Cidade do México, da equipe que fez Superman - O Retorno. Brandon Rough, o novo intérprete do papel, ganhou a capa dos principais jornais - `Ele veio nos salvar?¿, foi a pergunta dominante.

A eleição presidencial de domingo, dia 2, foi polarizada pela disputa entre dois candidatos - López Obrador, da coalizão formada por partidos como o PT de lá; e Felipe Calderón, do PAN, o Partido de Ação Nacional, que, segundo os próprios mexicanos, é de centro-esquerda na campanha e de centro-direita ao governar. O novo presidente, ao ser confirmado, terá de tecer alianças, até como forma de superar o desgaste pós-eleitoral.