Título: Governo reconhece que apoio está aquém do problema
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), responsável pelos principais programas de atendimento ao jovem no Brasil, reconhece que o problema do desemprego neste grupo já tomou proporções ¿preocupantes¿. O governo já desistiu de tentar alcançar uma medida para dar conta do problema como um todo. Segundo o secretário de políticas públicas de emprego do MTE, Remígio Todeschini, o esforço em atender aos jovens não está mais na ¿quantidade¿, mas na ¿qualidade¿ do que o governo oferecerá.

De 2003 até agora, os oito programas do ministério alcançaram cerca de 1,4 milhão de jovens no Brasil. O ministério não admite de forma clara, mas considera este um número pequeno para o tamanho do desafio existente atualmente. ¿O foco não é quantidade, mas qualidade. Embora nos preocupe o número de desempregados jovens¿, afirmou Todeschini.

Destes 1,4 milhão de jovens que passaram por algumas das modalidades de programa em funcionamento, 841,5 mil brasileiros com idade entre 16 e 24 anos foram encaminhados para algum emprego. O governo não faz a menor idéia sobre qual o destino deste grupo. Uma boa parte desses já não deve estar no trabalho para o qual foi indicado. Não há estatísticas sobre a permanência destes nos postos de trabalho. Receberam a oportunidade de trabalho a partir do Programa Primeiro Emprego ou pelo Sistema Público de Emprego.

ENFOQUE

O enfoque dos atendimentos do governo é o jovem de baixa renda, com pouca escolaridade e nenhuma formação profissional. ¿É o grupo social que tem menos oportunidade¿, argumenta Todeschini. Para o secretário, os jovem de classe social mais elevada, com maiores acessos à formação e qualificação profissional, têm naturalmente mais chances no mercado de trabalho. Os pesquisadores reconhecem esta condição, mas afirmam que, para isso ocorrer, é imprescindível um outro fator: crescimento econômico sustentado, o que o Brasil não consegue há muito tempo. O ministério admite que falta este requisito, até para começar a haver uma queda das taxas de desemprego entre jovens.

O foco exclusivo em baixa renda também gera críticas. Eliane Camargo, estudante de 21 anos, recorreu à ajuda do Primeiro Emprego. Não obteve sucesso. Tinha qualificação demais, foi a explicação que recebeu. ¿Esta resposta que recebi foi inexplicável. Não fui aceita porq ue tenho muita qualificação¿, reclama Eliane.

Responsável por uma pesquisa sobre o Primeiro Emprego, Marcos Mesquita, sociólogo e pesquisador do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp), afirma que o foco no jovem de baixa renda é correta, mas é também uma deficiência do programa. ¿Há muitos jovens qualificados que não conseguem ingressar no mercado de trabalho¿, afirma.