Título: Gravidez precoce e crime são efeitos
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

A falta de trabalho para a juventude brasileira não é mais um mero problema econômico, virou social - e grave. Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), relaciona os altos níveis de desemprego a dois problemas sociais que paulatinamente vai minando a juventude: a gravidez entre as adolescentes e a criminalidade entre os jovens.

É resultado da combinação, segundo Neri, da falta de emprego com baixa escolaridade e nenhuma qualificação profissional. O Centro de Políticas Sociais da FGV fez uma pesquisa sobre o perfil da população carcerária paulista e descobriu para onde vão os jovens desempregados paulistas. De acordo com o levantamento, 97,7% dos presos em São Paulo são homens e 54,6% têm idade entre 20 e 29 anos. A população paulista da mesma faixa etária é de apenas 28,5%. Tomando aqueles com idade entre 20 e 24 anos, a população carcerária de São Paulo é de 27,8%. A população paulista nesta faixa etária é de 14,95%. A pesquisa mostra situação similar no Rio de Janeiro.

Segundo Marcelo Neri, o número mostra que o cárcere é o destino do jovem, solteiro, de baixa escolaridade e quase sempre sem qualificação profissional. ¿A miséria não é, mas o desemprego é um motivador para o ingresso de jovens ao mundo do crime¿, afirma.

Na avaliação do pesquisador, a gravidez entre as adolescentes também tem relação com a baixa escolaridade, a falta de oportunidades. Ele explica que, de 1980 a 2000, a taxa de fecundidade das mulheres brasileiras caiu. Passou de uma média de 4,4 filhos para 2,3 filhos por mulher.

Chama a atenção, diz, a situação das adolescentes de 15 a 19 anos. O porcentual de mulheres grávidas nesta faixa etária cresceu. Em 1980, era de 7,9%. Em 2000, esse porcentual havia subido para 9,1%. Segundo ele, a situação dos jovens requer do País uma ação mais consistente do que as iniciativas atuais. ¿O Estado e a sociedade não conseguiram desenhar políticas para o público jovem, são rarefeitas as iniciativas para a população acima de 16 anos¿, afirma o pesquisador.