Título: Ex-ministro, Rodrigues vai representar o Brasil
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2006, Economia & Negócios, p. B9

Os governos e empresários do Brasil e da Alemanha querem desenvolver e conquistar juntos o mercado asiático, principalmente o chinês, no setor de etanol. A partir de hoje, o setor privado e representantes dos dois governos se reúnem em Berlim para uma série de reuniões sobre as relações Brasil-Alemanha, aproveitando inclusive o cenário da Copa do Mundo. O encontro, porém, causou uma saia-justa para o Palácio do Planalto que, de forma inédita neste mandato, foi obrigado a designar o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, como representante do País na reunião.

O ex-ministro pediu sua saída do governo há duas semanas alegando questões familiares. Mas, em Brasília, os comentários são de que o ex-ministro teria sido solicitado a fazer campanha pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, algo que ele negou. Diante de sua saída, o governo pretendia enviar o atual ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, ao evento em Berlim, mas os organizadores alemães recusaram a proposta de Lula e exigiram a presença de Rodrigues.

Um dos motivos é que Roberto Rodrigues irá receber, amanhã, o prêmio de personalidade do ano pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha e ainda foi convidado para presidir os debates entre os empresários. ¿A solução encontrada foi minha designação como representante do governo, mas sem responsabilidades de ministro. Foi uma forma bem tupiniquim de arranjar as coisas¿, explicou Rodrigues, em declaração ao Estado. Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, também estará no encontro.

Sem poderes para assinar acordos e sem a presença do verdadeiro Ministério da Agricultura, Rodrigues debaterá parcerias agrícolas. Uma delas é no setor de biocombustíveis. O Brasil tenta incrementar suas vendas nesse setor, aproveitando-se da alta nos preços do petróleo. Mas, para isso, precisa criar um mercado de etanol no exterior. Um dos destinos naturais seria a Europa, que tenta reduzir sua dependência do petróleo. Mas, sendo o açúcar altamente subsidiado na região, a entrada do produto brasileiro pode ser dificultada.

A opção, segundo Rodrigues, é encontrar terceiros mercados que brasileiros e europeus possam explorar de forma conjunta. ¿A Ásia seria um dos principais objetivos, especialmente porque precisa de energia para seu crescimento e, acima de tudo, uma energia limpa¿, afirmou Rodrigues. O Brasil, portanto, ofereceria a tecnologia desenvolvida pela Embrapa para produzir etanol.

Outro ponto da agenda bilateral que será tratado hoje é o fluxo de comércio entre as duas economias. A balança comercial é favorável aos alemães, ainda que o Brasil tenha um superávit no setor agrícola.

Apesar dos esforços dos organizadores do evento para intensificar a relação entre os dois países, Furlan e Rodrigues não compareceram à festa organizada pela Câmara de Comércio Brasil - Alemanha para que os empresários pudessem ver a final entre Itália e França. Preferiram ir ao estádio de Berlim.