Título: Mensaleiros mantêm status e mesma rotina
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2006, Nacional, p. A4

Como a Justiça costuma decidir com vagar e a vida passa com rapidez, outros personagens do escândalo do mensalão tratam de viver como se o inquérito do Ministério Público não existisse. A maioria age como se nada tivesse acontecido.

Listado entre os 40 denunciados, o secretário-executivo do Núcleo de Assuntos Estratégicos de Comunicação, ex-ministro Luiz Gushiken, repete de forma quase dogmática que o PT nada mais fez do que seguir uma prática rotineira. No seu vocabulário, mensalão é "caixa 2". Em sua análise, tudo não passa de uma prática de todos os partidos. Para ele, na hora de votar o povo não vai querer saber de discussão sobre corrupção, mas se a distribuição de renda melhorou.

Gushiken mantém a influência nos fundos de pensão, apesar de eles terem sido apontados como integrantes do esquema do mensalão. Sem status de ministro, trabalha como se fosse do primeiro time.

No Congresso, os mensaleiros adotaram a estratégia de se contrapor à opinião pública com uma ação legislativa de resultados. O deputado Professor Luizinho (PT-SP) dá aulas nessa matéria. Ainda ajuda a liderança do PT a mobilizar os deputados a votarem com o governo. Conseguiu aprovar propostas que o transformam praticamente em deputado distrital, como o da Universidade do ABC.

Os deputados petistas acusados no caso do mensalão mantiveram até alguns hábitos. Professor Luizinho, Paulo Rocha (PA), que renunciou, e José Mentor (SP), almoçam juntos toda semana, como faziam nos tempos em que Delúbio Soares e Marcos Valério distribuíam a dinheirama pelo Banco Rural.

O ex-presidente do PT José Genoino (SP) assumiu discurso de vítima e deve voltar à Câmara com boa votação. É uma das estrelas dos que se dizem injustiçados. Dessa lista fazem parte o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) e João Magno (MG). Valdemar Costa Neto (PL), que renunciou, quer distância de jornalistas. "Ele vem bombando e vai ser eleito com o voto do Alto Tietê. Há uns dez anos não o vejo tão animado", diz um assessor.