Título: Não existe critério para fixar custos das obras
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2006, Nacional, p. A10

Tamanho não é documento para conseguir um rol polpudo de autorizações - o importante é ter "cintura política", ensinam os prefeitos. Nos últimos dez dias de junho, Caçapava, um município de 75 mil habitantes, foi brindado com autorizações de R$ 5,47 milhões; já Araras, que tem 114 mil habitantes, ficou só com R$ 200 mil, enquanto Bocaina, um minimunicípio de apenas 4 mil habitantes, mereceu um total de R$ 600 mil em autorizações.

Mas os grandes também ganham: a Campinas do vice-prefeito Campos, por exemplo, recebeu R$ 3,43 milhões. Campos confessa que, para defender a cidade, lançou mão de suas credenciais de filiado ao PFL desde 1998: "Usei meu prestígio político, trabalhei muito por essas liberações. Fiz muitas gestões para autorizar algumas demandas represadas", disse ele, insinuando que o "represado" refere-se à época do ex-governador Alckmin.

Não há critério para fixar os valores das emendas negociadas politicamente. Em geral, esses valores brotam de palpites dos parlamentares. É por isso que a construção de uma creche em Salto foi orçada em R$ 170 mil; em Colina e Coroados, a creche custaria R$ 150 mil; em Jeriquara, R$ 90 mil; em Bocaina, R$ 80 mil; e, finalmente, em Tabatinga, R$ 70 mil.

A "sinalização turística" em Salto mereceu a bagatela de R$ 300 mil, sem explicar o motivo de tão impressionante valor. A iluminação do estádio de futebol de Guaimbê foi cotada por R$ 30 mil, mas a do estádio de Iaras custará o dobro, R$ 60 mil. A construção de "quadras cobertas" - assim, no plural - em Monteiro Lobato está listada por R$ 130 mil, enquanto a cobertura simples de uma quadra em Natividade da Serra foi orçada em R$ 100 mil. Uma pista de skate em Guaiçara foi apreçada em R$ 80 mil; a mesma pista de skate em Jeriquara custará R$ 110 mil.

Duas razões justificam esses valores desconexos e muitas vezes exagerados, explicam especialistas na gestão de orçamentos. Uma delas, maliciosa, é permitir que a licitação seja "espaçosa", ou seja, tenha boa margem de manobra; outra, pragmática, é fazer com que sobre dinheiro para fazer outras pequenas obras.