Título: Investimento cresce 24,5%, mas não favorece a criação de empregos
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

Os novos investimentos anunciados pelas empresas no primeiro semestre atingiram US$ 68,026 bilhões, 24,5% mais que em igual período do ano passado (US$ 54,643 bilhões).

Mas não deverão criar empregos na mesma proporção. Os dados são de um levantamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), obtido com exclusividade pelo Estado. Essa cifra seria ainda maior se fossem incluídos os investimentos da Petrobrás, não considerados no estudo. A estatal pretende desembolsar US$ 32 bilhões este ano, ante US$ 17 bilhões anunciados nos primeiros seis meses de 2005.

Embora positivos, os números precisam ser analisados com cuidado. A maioria dos projetos está ligado a setores intensivos em bens de capital, que não empregam muita mão-de-obra. É o caso dos setores de mineração, siderúrgico, petroquímico e de papel e celulose, que estão ganhando com a valorização das commodities. No setor petroquímico, por exemplo, a intenção de investir cresceu 595,6%, somando US$ 10,8 bilhões (ver tabela nos complementos).

A Suzano Petroquímica, que produz polipropileno, material usado na fabricação de componentes de plástico para automóveis, eletroeletrônicos, têxteis e embalagens, entre outros, vai investir este ano US$ 90 milhões para ampliar em 40% a capacidade de produção, que hoje é de 625 mil toneladas/ano.

¿Atuamos num setor de capital intensivo, que demanda investimentos constantes para suprir o crescimento de outros segmentos industriais¿, diz José Ricardo Roriz Coelho, superintendente da Suzano Petroquímica. Apesar dos investimentos, a empresa não deverá criar nenhum emprego. Todo o dinheiro será usado em máquinas e equipamentos que permitam ganhos de produtividade.

¿Esse é o Brasil que vai bem, mas também existe o Brasil que não vai tão bem, que é o dos fabricantes de calçados, têxteis e vestuário, entre outros, grandes empregadores de mão-de-obra que vêm sofrendo com a valorização do real¿, observa Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Além de perder competitividade no mercado exportador, as empresas que atuam nesses segmentos enfrentam a concorrência dos importados, principalmente da China, cujos preços ficam ainda mais competitivos com a desvalorização do dólar. Para se ter idéia do tamanho do problema, até maio as importações de tecidos de fibras têxteis, sintéticas ou artificiais chinesas já haviam crescido 32% em relação a igual período de 2005, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

DEMISSÕES

Os estragos provocados pelo câmbio também podem ser confirmados pela pesquisa do BNDES, que não registrou nenhum anúncio de investimento por empresas de calçados, têxteis e vestuário.

Um exemplo disso é a Calçados Sândalo, de Franca, no interior paulista, que preferiu terceirizar parte da produção a correr o risco de investir no aumento da capacidade de sua fábrica. A empresa, que dispensou mão-de-obra em janeiro, produz hoje 4,5 mil pares de calçados por dia, dos quais 20% são fabricados por terceiros.

¿Nos recusamos a investir com o dólar tão baixo¿, diz Carlos Brigagão, presidente da Sândalo, que não informou o número de demissões. Segundo ele, as exportações, que já responderam por metade do faturamento da empresa, hoje representam só 30%.

Só no Rio Grande do Sul, onde existe um dos principais pólos calçadistas do País, já foram fechadas mais de 2 mil vagas desde o início do ano.

No setor siderúrgico, os investimentos caíram quase 40% em relação ao primeiro semestre de 2005. Ainda assim, somaram US$ 14,786 bilhões - o maior entre todos os setores pesquisados pelo BNDES.

A Inal, processadora e distribuidora de bobinas de aço pertencente à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), vai investir R$ 60 milhões este ano. Desse total, R$ 40 milhões serão usados para a compra de máquinas e melhoria de infra-estrutura da fábrica de Mogi das Cruzes (SP). ¿O mercado deslanchou e deve crescer 10%, depois de ter se retraído no ano passado¿, diz Wilson Carnevalli Filho, presidente da Inal. Segundo ele, a demanda está mais aquecida no segmento de produtos para construção civil.

No setor de açúcar e álcool, a situação não é diferente. As usinas investem pesado no aumento da produção. A Clealco está investindo R$ 100 milhões numa nova unidade em Queiroz, interior de São Paulo. Com capacidade para moer até 5 milhões de toneladas de cana por ano, a usina - com inauguração prevista para até setembro - vai criar cerca de 200 empregos diretos, segundo o diretor José Bassetto Júnior.

Os fabricantes de papel e celulose anunciaram projetos de US$ 5,3 bilhões, um crescimento de 144,8% em relação ao primeiro semestre de 2005. Na Suzano Bahia Sul Celulose, os planos prevêem US$ 1,3 bilhão na construção de uma fábrica em Mucuri, Bahia. A unidade terá capacidade para 1 milhão de toneladas de celulose por ano, que serão destinadas à exportação, informa Boris Tabacof, vice-presidente do conselho de administração da empresa.