Título: Onda de prosperidade muda vida de São Gonçalo
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

A tranqüilidade típica de uma cidadezinha do interior de Minas já não é mais uma característica de São Gonçalo do Rio Abaixo. Os ventos do desenvolvimento trazidos pela implantação da mina de Brucutu chegam a assustar parte da população. O município tem oficialmente 8,5 mil habitantes - 3,8 mil na área urbana e 4,7 mil na zona rural -, conforme dados de 2003 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o prefeito Raimundo Nonato Barcelos acredita que a população total já chega a 12 mil pessoas.

Resultado imediato da chegada de um exército de trabalhadores é a especulação imobiliária. A velha arquitetura colonial sofre rápida transformação e um lote no centro histórico da cidade, que antes custava R$ 15 mil, hoje não é vendido por menos de R$ 100 mil. "E não tem mais não", avisa Barcelos. "A cidade não estava preparada para receber um investimento tão grande."

Por causa disso, municípios vizinhos também estão aproveitando a onda de prosperidade. O Barão Palace Hotel, em Barão de Cocais, por exemplo, contabiliza uma ininterrupta taxa de ocupação de 100%. Em junho do ano passado, o proprietário foi obrigado a se desfazer do salão de festas e de uma área anexa para ampliar o número de quartos, de 29 para 42. "Mesmo assim, ficam pessoas na fila aguardando", observa a gerente Láudia Cupertino Aleixo.

Mas o prefeito Barcelos não tem do que reclamar. Em ritmo acelerado, a cidade atrai profissionais liberais, novos comércios e investimentos de empresários de fora, como uma faculdade particular, construída num terreno doado pela prefeitura. O Executivo municipal, aliás, é o maior beneficiário.

O estudo feito pelo ex-ministro Paulo Haddad calculou que em apenas três anos a arrecadação tributária - Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cefem) e ICMS - será dez vezes maior do que há cerca de quatro anos, quando atingiu R$ 4,8 milhões.

No ano passado, conforme o prefeito, calculava-se uma arrecadação global de R$ 8 milhões - foi de R$ 19 milhões. Em 2006, a previsão orçamentária saltou de R$ 16 milhões para R$ 25 milhões. Com o cofre cheio, o prefeito afirma que tem investido em saúde, educação e na infra-estrutura da cidade. Uma das preocupações também é evitar que a população rural migre para a área urbana.

EMPREENDEDORISMO

O ex-ministro da Fazenda avalia que a cidade e a microrregião podem atingir uma das maiores rendas per capita do Estado e multiplicar por cinco o investimento e o número de empregos diretos criados na mina de Brucutu. Mas esse multiplicador varia com a capacidade da sociedade local em responder às oportunidades."Você tem de estar preparado para diversificar a base produtiva ao longo do tempo."

A Associação Comercial Industrial e Agropecuária do município deu início a um trabalho de conscientização dos donos de estabelecimentos locais diante das novas oportunidades. O Supermercado São José e o depósito de construção já se "modernizaram" e agora oferecem meios eletrônicos de pagamento, por meio de cartões de crédito e débito. "Antes era tudo na base do fiado e da caderneta", comenta a presidente da associação, Mary de Carvalho Fonseca.