Título: Vocação de Minas renasce a ferro e aço
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

Wheremts Peixoto Barbosa, de 18 anos, conquistou seu primeiro emprego há pouco mais de uma semana. O trabalho na área de pessoal da Siderúrgica Gerdau Açominas, em Ouro Branco, região central de Minas Gerais, é temporário, mas serve de estímulo ao jovem, que pretende prestar vestibular para Engenharia de Produção. "É uma das áreas que têm mais demanda por aqui", diz, confiante em conquistar uma ocupação definitiva na empresa.

Confiança é o que demonstra também o empresário Sanjay Purushotam, 27 anos, sócio proprietário do Posto Recreio, em São Gonçalo do Rio Abaixo, a 84 quilômetros de Belo Horizonte. Há cerca de um mês, ele adquiriu o posto de gasolina de frente ao seu, no quilômetro 230 da BR-262. Após a ampliação do restaurante e da lanchonete, o empresário contabiliza um crescimento de 400% na média diária de refeições servidas. "Existia a estrutura, mas não tinha a demanda", resume.

Além dos nomes incomuns, o que também caracteriza Wheremts e Sanjay é o fato de eles serem dois dos milhares de beneficiários de um conjunto de investimentos - impulsionados pela demanda aquecida internacional - que empresas de mineração e siderurgia executam no centro mineiro.

O ferro e o aço, insumos que ainda ocupam a ponta dos indicadores industriais do Estado, após um período - principalmente na década passada - marcado por aquisições e ganhos de produtividade, voltaram impulsionar o desenvolvimento na macrorregião que inclui o chamado Quadrilátero Ferrífero.

O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Birchal, lembra que a região central representa cerca de 40% do PIB estadual, sendo a principal responsável pelo aumento de 6% da produção física da economia mineira no ano passado. O saldo de empregos no setor extrativo mineral, de 2004 até meados deste ano, é de quase 8 mil postos, conforme cadastro geral do Ministério do Trabalho e Emprego. A tendência é de crescimento.

VOCAÇÃO HISTÓRICA

"É uma retomada, sem dúvida, uma consolidação de uma vocação histórica", avalia o ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco (1992-1994), Paulo Haddad. "Estamos num momento extremamente favorável para setores intensivos de recursos naturais."

Haddad, atualmente consultor em economia e planejamento, foi o responsável por um estudo do impacto socioeconômico da implantação da Mina de Brucutu, da Cia. Vale do Rio Doce. O projeto, orçado em US$ 1,1 bilhão, abriu nova perspectiva para a economia da microrregião, com efeitos principalmente na pequena São Gonçalo do Rio Abaixo, sede da mina. Segundo a Vale, trata-se da maior planta de concentração de minério de ferro em fase de implantação no mundo.

No momento, cerca de 6 mil pessoas, entre empregados próprios e de empresas contratadas pela Vale, trabalham na implantação de Brucutu. A planta já produz a chamada "fase rica" do minério e até o fim de 2006, conforme o gerente-geral, Silmar Magalhães Silva, deverá atingir a produção anual de 12 milhões de toneladas. Em sua segunda fase, prevista para o início de 2007, a capacidade de produção deverá atingir 30 milhões de toneladas/ano.

O volume expressivo de extração é resultado da descoberta de uma jazida de cerca de 745 milhões de toneladas, o que faz de Brucutu a maior mina do Complexo Minas Centrais. A estimativa é que a mina terá cerca de 2,35 mil empregados permanentes, sendo 1,5 mil funcionários próprios da Vale e 850 de prestadoras de serviço.

DEMANDA

A forte alta no preço do minério de ferro provocada pelo aumento da demanda externa levou a grande maioria das grandes mineradoras instaladas no Estado a investir na ampliação da produção. É o caso da Samarco, de Mariana (R$ 1,4 bilhão) e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Congonhas (US$ 776 milhões). A partir de um investimento de US$ 760 milhões, outra pelotizadora e uma usina de concentração de minério serão instaladas em Itabirito e Nova Lima pela Minerações Brasileiras Reunidas (MBR).

A acelerada expansão da China e a expectativa de que a demanda mundial por aço vai continuar elevada também motivaram o Grupo Gerdau a investir US$ 1,5 bilhão na ampliação da capacidade instalada da Açominas, em Ouro Branco, de 3 milhões para 4,5 milhões de toneladas/ano. No fim deste ano ou início do próximo, a empresa conclui estudos para um projeto de ampliação, que pode elevar a produção anual a 6,5 milhões de toneladas.