Título: Pressão reduz greve de agentes
Autor: Alessandra Pereyra
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2006, Metrópole, p. C1

Por conta da pressão dos diretores sobre funcionários, a suspensão das visitas no sistema prisional do Estado foi parcial ontem. O movimento teve sucesso em presídios do oeste paulista, da região de Ribeirão Preto e da Grande São Paulo.

Segundo o Síndicato dos Agentes Penitenciários (Sindasp), a suspensão atingiu 35 unidades. Já a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) confirmou que não houve visitas em 19. Para os agentes, que tinham na proibição da entrada de parentes a melhor arma de protesto contra a morte de seis colegas em dez dias, está claro que os trabalhadores sofreram pressão psicológica e ameaças de represálias.

¿Eles (diretores) também estão sob pressão. Por isso intimidam os agentes¿, disse Luiz da Silva Filho, diretor de Saúde do Sindicato dos Funcionários do Sistema Penitenciário do Estado (Sinfuspesp). Segundo ele, tanto o governo quanto o crime organizado estariam cobrando dos diretores normalidade nas visitas. ¿Não se preocupam com os agentes. Só querem evitar rebeliões e ataques do PCC¿, disse um sindicalista.

As declarações foram feitas no enterro do agente e dirigente sindical Paulo Gilberto dos Santos, de 54 anos, assassinado sexta-feira em São Paulo, quando saía para o trabalho na Penitenciária 2 de Guarulhos. Pelo menos cem pessoas, entre parentes e funcionários do sistema, venceram o medo sentido nos últimos dias para acompanhar o enterro no Cemitério do Horto, que é particular e fica na zona norte.

O funeral foi financiado pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado (Sindasp), ao qual Santos era associado. O senador Eduardo Suplicy (PT), que está intermediando negociações dos servidores com o governo do Estado, compareceu para prestar solidariedade à família. O frei Anselmo Júnior, da Pastoral Carcerária, presidiu uma rápida cerimônia.

SEGURANÇA PARTICULAR

No enterro do agente, a única ausência sentida foi a de um representante do governo do Estado. Não havia ninguém do Palácio dos Bandeirantes ou da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). Nem mesmo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) se encarregou de mandar um carro da Polícia Militar para garantir segurança ao local. O trabalho foi feito, espontaneamente, por 15 integrantes do Grupo de Intervenção Rápida, criado pela SAP. Eles compareceram fardados e armados ao velório e ao enterro. ¿Era o que podíamos fazer para homenagear o colega e proteger a família¿, disse um deles.

A paralisação atingiu os presídios do oeste. Houve reação na Penitenciária II, de Presidente Venceslau, onde estão 415 detentos do PCC. ¿Os presos ficaram revoltados, mas não quebraram nada¿, disse um agente. Segundo ele, os detentos consideraram a suspensão uma ¿declaração de guerra¿ e intensificaram as ameaças. ¿Dizem que vão continuar matando e que vamos ser os próximos alvos deles.¿