Título: Sindicalistas temem que disputa inviabilize até reajuste de 5%
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

A disputa política que se criou em torno do reajuste para os aposentados e pensionistas da Previdência que têm benefícios acima de um salário mínimo (R$ 350) preocupa as entidades representativas da categoria. O temor é que o acirramento da disputa entre governo e oposição termine por inviabilizar até o reajuste de 5% já definido pelo governo em acordo firmado em abril com as centrais sindicais.

Os parlamentares insistem em ampliar o reajuste para 16,67%, que não tem previsão orçamentária e, portanto, pode cair para 3,14%, correspondente à reposição das perdas com a inflação, como determina a legislação anterior. Para os sindicalistas, o que existe é muita demagogia e nenhuma disposição de tratar a questão com a seriedade que ela exige.

"Como o Congresso está desacreditado e muitos deputados sabem que não serão reeleitos, a saída é tentar ganhar o voto do aposentado e desgastar politicamente o presidente Lula", afirma João Batista Inocentini, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical.

Para ele, todo mundo quer ser 'o pai dos aposentados'. "Deputados que estão no poder há 30 anos e nunca votaram uma causa em favor dos aposentados agora fazem discurso chorando e dizem que não sabiam que a situação é tão dramática".

As negociações que ocorreram em abril entre as centrais e o governo terminaram com um acordo que garante, além dos 5% de reajuste para quem recebe mais de um salário mínimo, um pacote de benefícios. Entre eles, estão a antecipação do pagamento de 50% do décimo terceiro salário para setembro deste ano, a compra de medicamentos de uso contínuo com redução de 90% no preço e a criação de uma comissão interministerial para o diálogo permanente com as entidades, com a finalidade de acompanhar ações e políticas que beneficiem os aposentados e pensionistas. O acordo também prevê a continuidade das negociações para corrigir defasagens no valor dos benefícios, que chegam a superar 90%, em alguns casos.

"Não queremos só 16,66%, queremos recompor o poder aquisitivo dos aposentados e pensionistas", diz Artur Henrique da Silva Santos, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para ele, os parlamentares atropelaram o acordo. "Nosso receio é que o pacote acordado seja jogado na lata de lixo".