Título: Juro sobe pelo 2º mês consecutivo
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2006, Economia & Negócios, p. B6

Pelo segundo mês consecutivo, os juros cobrados do consumidor subiram em junho, apesar do corte de 0,5 ponto porcentual feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na taxa básica de juros, a Selic, em maio. Os movimentos da Selic costumam balizar o que vai ocorrer com os juros de mercado, mas, no mês passado, as direções foram opostas.

Em junho, a taxa média de juros da pessoa física fechou o mês em 7,56%, com alta de 0,04 ponto porcentual na comparação com maio, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). As taxas subiram em todas as linhas de crédito ao consumidor pesquisadas. De abril para maio, a alta também havia sido de 0,04 ponto porcentual na taxa mensal.

"Tecnicamente, havia condições para reduzir os juros", afirma o vice-presidente da entidade e coordenador da pesquisa, Miguel Ribeiro de Oliveira. Ele argumenta que na última reunião do Copom, realizada em fins de maio, a Selic foi reduzida em 0,50 ponto porcentual e essa queda não foi repassada ao consumidor.

Na prática, porém, lojas, financeiras e bancos resolveram ser mais cautelosos. O economista atribui essa cautela a dois fatores. O primeiro à incerteza no mercado internacional quanto ao comportamento dos juros nos Estados Unidos para conter a alta da inflação naquele país. Isso já provocou elevação das taxas de juros no mercado futuro.

O segundo fator, observa Ribeiro de Oliveira, é o aumento da inadimplência do brasileiro. De dezembro para maio, o calote cresceu quase um ponto porcentual, segundo dados do BC. Em 12 meses até maio, o aumento foi de 1,6 ponto porcentual.

De acordo com a pesquisa, a maior elevação dos juros ocorreu no comércio. Em maio, a taxa mensal estava em 6,15% e encerrou junho em 6,21%, com alta de 0,06 ponto porcentual.

O coordenador da pesquisa explica que as lojas foram as que mais aumentaram os juros de um mês para outro porque são as mais afetadas pela inadimplência. Além disso, poucas têm recursos próprios para bancar o crediário. Por isso, buscam capital no mercado financeiro, que é influenciado pela alta dos juros futuros.

Os menores aumentos nos juros ao consumidor ocorreram no empréstimo pessoal dos bancos. Em maio, a taxa média estava em 5,59% ao mês e subiu para 5,61% em junho, com elevação de 0,02 ponto porcentual. "É que esta linha sofre a concorrência direta do crédito consignado", diz Ribeiro de Oliveira.

Já o crédito para empresas caiu na mesma proporção da alta da taxa ao consumidor de maio para junho. Em maio, o custo médio para as empresas dos financiamentos estava em 4,38% ao mês e encerrou junho em 4,34%. "Na pessoa jurídica a concorrência é maior", observa o economista.

Para este mês, a perspectiva é de redução dos juros ao consumidor, prevê Ribeiro de Oliveira. Algumas lojas, como as Casas Bahia, por exemplo, iniciaram julho anunciando juros pela metade para itens promocionais.

Entre os fatores que devem contribuir para a redução dos juros estão a queda nas vendas após a Copa e novo corte da Selic esperado para a próxima reunião do Copom da semana que vem.