Título: CPI dos Bingos pede que 79 sejam indiciados
Autor: Rosa Costa e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Nacional, p. A4

Boicotada pelo governo nos 11 meses de atividade, a CPI dos Bingos concluiu ontem seus trabalhos com a aprovação do relatório que aponta o envolvimento de pessoas ligadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em crimes de corrupção em várias áreas da administração pública. O texto do relator Garibaldi Alves (PMDB-RN) foi aprovado por 12 votos a 2. O parecer pede ao Ministério Público o indiciamento de 4 empresas e 79 pessoas, entre elas o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, o ex-caixa de campanha de Lula e atual presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso.

Palocci teve o indiciamento pedido por formação de quadrilha, peculato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa, durante sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto. O de Okamotto foi requerido por lavagem de dinheiro e crime contra a ordem tributária. Entre outros casos, ele é citado no relatório pelo pagamento de dívidas de Lula com recursos não esclarecidos e suposta ligação com esquema de extorsão de prefeituras do PT. O relator não aceitou os argumentos de colegas para incluir na lista de indiciados os nomes do chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, e o do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.

Garibaldi chegou a concordar em especificar no texto o pedido para que o MP intensificasse as investigações sobre a participação de Carvalho no esquema de extorsão que teria resultado no assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel. Mas recuou, diante do alerta do senador petista Tião Viana (AC) de que isso adiaria a votação do documento, porque abriria espaço para novo pedido de vista. Os protestos pela exclusão do nome de Dirceu foram menores porque o ex-ministro não chegou a depor na comissão. "Já sobre o senhor Gilberto, depois do depoimento e da acareação dele com os irmãos do prefeito, eu e a bancada de meu partido ficamos convencidos de que há razões de sobra para suspeitar de participação em ilícitos penais", disse o senador Jefferson Péres (PDT-AM).

Carvalho é citado 50 vezes nas 78 páginas do capítulo do relatório que trata da morte de Celso Daniel, como protagonista do esquema de extorsão para abastecer o caixa 2 do PT - antes e depois do assassinato. João Francisco e Bruno Daniel, irmãos do prefeito, afirmaram tê-lo ouvido dizer duas vezes que era o encarregado de levar, "em seu Corsa preto", o dinheiro da extorsão para entregá-lo ao então presidente do PT, José Dirceu. De uma só vez, segundo os irmãos, eles teriam repassado R$ 1,2 milhão ao dirigente do PT.

Sem maioria para rejeitar o relatório, como esperavam, os governistas apostam agora no êxito da estratégia de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para anular as investigações. Vão alegar que a Constituição e o regimento do Senado foram desrespeitados pela apuração de denúncias que não têm ligação com o fato determinante de criação da CPI. Ou seja, os jogos de bingos. De acordo com a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), a iniciativa deve partir de "alguns dos atingidos". "Não tenho a menor dúvida de que isso ocorrerá, com fortes probabilidades de o Supremo acolher o pedido", previu a líder. "Talvez seja o documento mais frágil da história do Parlamento", criticou Tião Viana.

De iniciativa do senador Magno Malta (PL-ES), a CPI dos Bingos foi aprovada em fevereiro de 2004, quando o então chefe da Assessoria Parlamentar da Presidência Waldomiro Diniz foi filmado cobrando propina do empresário de jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e seus aliados impediram sua instalação com a recusa em indicar os representantes dos partidos. Só em junho do ano passado é que o STF mandou instalar a comissão, atendendo a uma representação de Jefferson Péres e Pedro Simon (PMDB-RS).