Título: Candidato agora poupa presidente do BC
Autor: Cida Fontes e Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Nacional, p. A5

Assim que desembarcou ontem em Goiânia, o tucano Geraldo Alckmin apressou-se a tentar desfazer o mal-estar que causou entre seus aliados na véspera, quando, em entrevista à radio CBN, chamou de covarde o goiano Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Embora tenha saído do PSDB em 2003 para assumir o BC, Meirelles ainda mantém estreita ligação com os tucanos de Goiás.

"Eu queria aqui corrigir. Eu tenho grande respeito pelo presidente Henrique Meirelles. Eu me referi à política econômica que precisa ser corrigida e não à pessoa do presidente do BC", afirmou Alckmin, antecipando-se a perguntas. "Temos uma política fiscal ruim, má qualidade do gasto público, frouxidão fiscal e aumento dos gastos correntes." Mais tarde, voltou a dizer que não criticara Meirelles.

Além do ex-governador Marconi Perillo, Meirelles é amigo da senadora Lúcia Vânia, coordenadora política da campanha de Alckmin. Ela admitiu que seu candidato teria se expressado mal e sido duro com o presidente do BC, numa atitude agressiva que não é seu estilo.

Alckmin fez a correção antes mesmo de Meirelles responder. O presidente do BC comentou o assunto em Brasília, em sessão conjunta de seis comissões do Congresso. Qualificou de "emocional" a crítica do tucano à política do BC e insistiu que a definição da taxa básica de juros, a Selic, responde à "missão" do BC de manter a inflação sob controle para garantir o crescimento econômico sustentável em longo prazo. "A questão da taxa de juros não demanda grandes emoções, covardia ou valentia."

Na segunda-feira, Alckmin qualificara como "burrice, burrice, burrice" a opção do governo de saldar o compromisso com o Fundo Monetário Internacional, em 2005, e elevar a dívida interna, de custo maior.

Ao fim da sessão na Câmara, Meirelles foi abordado por jornalistas sobre as declarações de Alckmin. "Elogios e críticas ao BC fazem parte do nosso trabalho", desconversou.

Ele acrescentou que o BC não tem "liberdade" para fixar a Selic em nível mais baixo. Em resposta indireta a Alckmin, insistiu em que, quanto mais a sociedade estiver convencida do acerto das políticas monetária e de câmbio flutuante, mais fácil será a queda dos juros. "Inflação mais alta não leva a crescimento maior."