Título: Socialista francesa quer guerra contra crime
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Internacional, p. A33

De olho na presidência do país, Ségolène Royal é acusada de propor uma política de segurança de ultradireita

Ségolène Royal, que postula a candidatura socialista à presidência, está provocando forte polêmica na França ao defender uma política de segurança pública e de combate ao crime mais rigorosa. É uma tentativa de evitar que a direita e extrema-direita representadas por seus principais adversários nas eleições de 2007, Nicolas Sarkozy e Jean-Marie Le Pen, possam monopolizar um tema que a cada dia preocupa mais os franceses.

Mas ao propor medidas concretas contra a delinqüência juvenil, ela irritou os chamados "elefantes" socialistas - que sempre defenderam uma política de segurança mais preventiva que repressiva.

Essa política (preventiva) foi uma das principais causas da fragorosa derrota do socialista Lionel Jospin nas eleições presidenciais de 2002. Ontem, Ségolène voltou a defender suas idéias na TV. Disse que elas estão de acordo com o projeto socialista e que o candidato socialista será o da "luta contra a precariedade". Negou que esteja adotando preceitos de seus adversários conservadores. Ressaltou que está ao lado dos que sofrem com a falta de segurança.

A candidata socialista sabe que, ao assumir essa posição, se expôs a criticas tanto dos conservadores quanto de seus adversários no interior do próprio Partido Socialista (PS). Entre eles Dominique Strauss Khan que ironizou as propostas dela: "Já temos um Sarkozy no país e não vale a pena termos dois."

Por sua vez, Sarkozy disparou: "Ela se posiciona na mesma linha de Le Pen."

Para respeitados analistas políticos, Ségolène busca ampliar sua base de apoio junto ao eleitorado popular e mais sensível a esse apelo. Entre as medidas preconizadas , ela cita a criação de internatos de jovens em estabelecimentos especializados e o "enquadramento militar" dos jovens delinqüentes (uma tentativa de reeducação feita no passado, com resultados diversos). Filha de um oficial das Forças Armadas, ela defende a reintrodução do serviço militar no país, extinto há alguns anos. Ironias e críticas à parte, os analistas acham que Ségolène poderá ampliar sua margem eleitoral em relação aos demais candidatos.

Hoje, as pesquisas dão a ela vantagem de 4 pontos porcentuais sobre Sarkozy - 34% a 30%. Nem todos os dirigentes da esquerda contestam a liderança e as idéias de Ségolène. Para o ex-ministro da Defesa de Mitterrand, Jean Pierre Chévénement, ela mostrou bom senso. "A senhora Royal manifesta sensibilidade mais próxima da realidade do que alguns homens de esquerda que pretendem opor prevenção à repressão."

Ontem, ela recebeu o apoio do ex-primeiro-ministro socialista Pierre Mauroy. Quem se encontra numa posição mais delicada é François Hollande, seu companheiro e pai de seus quatro filhos. Primeiro-secretário do PS, ele é cobrado diariamente pelos demais postulantes à candidatura presidencial socialista que o acusam de dividir o partido para facilitar os planos da mulher.

O diretor do Centro de Pesquisas de Ciências Políticas, Pascal Perrineau, também concorda com a estratégia de Ségolène. Acha que ela deu sinais ao eleitorado popular. Perrineau está convencido de que o tema de segurança voltou hoje ao primeiro plano. E poderá prevalecer nos próximos meses da campanha eleitoral. Ele pondera, no entanto, que os meios burgueses e intelectuais da esquerda vão continuar reagindo contra essa linha que contraria a ideologia partidária. Lembra que não se pode esquecer que os social-democratas na Europa só conseguiram sucesso eleitoral adotando uma política rigorosa em matéria de segurança pública. Foi o caso de Tony Blair, na Inglaterra, e Gerhard Schroeder ,na Alemanha.