Título: 'Divisão de xiitas impede nomeação de ministros'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Internacional, p. A32

Entrevista

Iyad al-Samarraie, dirigente do principal bloco sunita no Parlamento iraquiano

Maria Teresa de Souza

Enquanto centenas de pessoas eram mortas e feridas esta semana em ataques no Iraque, o novo governo do país, empossado em meados de maio, continua dividido sobre o controle dos ministérios cruciais para a segurança: a Defesa, que controla o Exército, e o Interior, ao qual está subordinada a polícia. Atentados com carro-bomba geralmente são obra de insurgentes sunitas enquanto execuções e chacinas são parte da violência sectária, entre sunitas e xiitas. O deputado Iyad al-Samarraie, da Frente do Acordo Iraquiano, principal bloco árabe sunita no Parlamento, falou ao Estado por telefone sobre a crise política.

Houve acordo para que o Ministério do Interior ficasse com os xiitas e a Defesa, com os sunitas. Então, o que emperra a escolha dos nomes?

Concordamos em que esses ministérios têm de ficar com políticos sunitas e xiitas independentes, não sectários e respeitados pelos dois lados. No nosso bloco, os três partidos aceitaram vários nomes propostos, incluindo sugeridos pelos americanos. O problema está no bloco xiita, que inclui sete partidos. Eles estão divididos e não aceitaram os nomes.

Por quê?

A principal questão é a infiltração de milícias nas forças de segurança. Os ministros têm de ser independentes, capazes de lidar com essas milícias, os esquadrões da morte, os insurgentes (grupos que combatem o governo e as forças de ocupação). Mas algumas milícias são ligadas a partidos xiitas.

O embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad, se reuniu esta semana com líderes xiitas e sunitas para tentar pôr fim a esse impasse. O que foi discutido?

Não participei da reunião. O que posso dizer é que ele tenta fazer a negociação avançar, atua como moderador.

Está havendo negociações com os insurgentes?

Parece que há conversações promovidas pelo presidente (Jalal Talabani) e pelos americanos no Iraque e também fora do país. Mas não falam abertamente sobre isso. Todo mundo espera que o governo busque o diálogo com a insurgência, só que qualquer negociação séria depende da definição sobre a composição do governo. Também será necessária uma posição comum entre o governo e os americanos. Não é possível cada um agir como quer.

O que o sr. acha da ameaça do primeiro-ministro Nuri al-Maliki de nomear sozinho os ministros (amanhã), se os partidos não chegarem a acordo sobre os nomes?

Ele deve ter a palavra final sobre o governo. Se escolher um dos políticos independentes que já aceitamos, concordaremos. Mas se quiser satisfazer só o bloco xiita, isso criará problemas.