Título: Presidente do Irã rejeita 'pressão ocidental'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Internacional, p. A29

Ahmadinejad não comenta oferta de benefícios, mas insiste em que país não desistirá da tecnologia nuclear

O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, afirmou ontem que a pressão do Ocidente não fará o Irã abandonar seu direito de desenvolver a tecnologia nuclear. "Nossas atividades estão baseadas nas normas da Agência Internacional de Energia Atômica. Mantemos a máxima cooperação com eles e não há razão para que não cooperemos", disse ele, reiterando o objetivo pacífico do programa nuclear iraniano, segundo a agência oficial de notícias, a Irna.

O Irã não deu uma resposta oficial à decisão tomada quinta-feira em Viena pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França e China) e a Alemanha. Eles concordaram em propor um pacote de incentivos econômicos e tecnológicos ao Irã para que abandone seu programa de enriquecimento de urânio. Os detalhes dessa proposta serão apresentados nos próximos dias.

Os líderes iranianos rejeitaram a oferta feita quarta-feira pelos EUA de negociações diretas, multipartidárias, porque ela tem como precondição a suspensão do enriquecimento. Ontem o subchefe do programa nuclear do Irã, Mohammad Saidi, qualificou a condição americana de "grande insulto". O enriquecimento é visto com suspeita porque pode ser utilizado para a produção de armas.

Ontem a secretária de Estado, Condoleezza Rice, expressou esperança de poder reunir-se com ministros iranianos, desde que o país suspenda o enriquecimento. Esse seria o primeiro encontro oficial, público, entre autoridades dos dois países desde que romperam relações em 1979. Ela também afirmou em que o Irã terá de responder nas próximas semanas se aceita os benefícios e, se a resposta for negativa, poderá ser submetido a sanções da ONU.

Isso não está claro, porém, porque Rússia e China mantêm fortes relações comerciais com o Irã e se opõem a medidas punitivas. Ontem o presidente russo, Vladimir Putin, elogiou a decisão americana de buscar o diálogo direto, mas preveniu que é prematuro falar em sanções. Um diplomata europeu antecipou à Reuters, porém, que os dois países concordaram em não vetar sanções no Conselho, com a condição de poderem optar por não aplicá-las. Embora o Irã continue se mostrando irredutível a concessões, o analista político iraniano Mostafa Mirzaian diz que essa unidade internacional sem precedentes deixa o país com pouca margem de manobra.

País terá arma atômica em 2015, diz Negroponte

O diretor do setor de inteligência dos EUA, John Negroponte, disse à BBC que a estimativa do governo americano é que o Irã poderá ter armas atômicas entre 2010 e 2015. Ele também acusou o Irã de ser o principal Estado patrocinador do terrorismo.