Título: Presidente 'inaugura' mais uma pedra fundamental
Autor: Lizandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Nacional, p. A6

Ao inaugurar mais uma pedra fundamental, desta vez de uma futura usina de biodiesel em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, o presidente se comparou a Ronaldinho Gaúcho e diz que faz política "com alegria". O local onde será a futura fábrica BSBio não tinha ainda nenhum indício do empreendimento. No dia anterior, máquinas fizeram a terraplenagem do terreno e uma área foi preparada para o presidente pôr a primeira pá de concreto no que poderá ser a primeira coluna de fundação da empresa. Lula ainda inaugurou uma placa em uma pedra, marcando a data do evento.

"Sei que tem gente nervosa, que está brava. Não tem problema. Eu, a estas alturas, estou fazendo política como o Ronaldinho Gaúcho joga futebol: com alegria", disse. "Até porque eu estou nisso porque eu quero. Vamos fazer e queremos apresentar resultados."

Em Araucária, no Paraná - onde participou, na Refinaria Getúlio Vargas (Repar), do início do teste industrial para produção do H-Bio, diesel que une óleo vegetal e petróleo no processo de refino -, Lula disse que os brasileiros são exigentes demais, inclusive com a seleção. E citando exemplo das "poucas coisas" que fez, mas que merecem reconhecimento, citou a criação de empregos. "Agora, faz 43 meses que o emprego cresce de forma consecutiva, com carteira assinada. Há três anos, dirigentes sindicais, mesmo os mais pelegos, fazem acordos tendo ganho real."

Mas, segundo o economista da consultoria LCA, Fábio Romão, apesar de o emprego com carteira assinada crescer a níveis recordes por três anos consecutivos, esse desempenho ainda é insuficiente para dar conta do desemprego elevado, fruto da falta de crescimento sustentável nos últimos anos.

Em 2003, foram criados 1,523 milhão de empregos formais; no ano passado, 1,253 milhão; e a previsão da consultoria para este ano é de 1,387 milhão de novos postos. "Os números são recordes para a série histórica e são bem-vindos", observa.

RESPEITO Lula aproveitou para mandar recado a seus críticos: "Respeito é bom, eu gosto de dar e, muito mais, eu gosto de receber."

Para Lula, o Brasil tornou-se uma "nação grande" e também quer respeito do mundo. "Mas se quiser respeito, tenho que me respeitar primeiro. E durante muitos anos este país não se respeitou." Ele lembrou que, ao assumir o governo, o Brasil precisava vender dólares para baratear a moeda, enquanto hoje compra para encarecê-la um pouco. "Não queremos mais o FMI nem o Clube de Paris."

Ressaltou os avanços ecológicos e sociais que representam o novo combustível. Por utilizar oleaginosas na produção, Lula o considera uma "revolução" porque priorizará a agricultura familiar. Mas frisou que também os grandes produtores serão beneficiados, quando a produção for em maior escala. "Vamos precisar de toda a soja que o Blairo (Blairo Maggi, governador de Mato Grosso) planta, mais a que o Requião (Roberto Requião, governador do Paraná) não quer aqui, a transgênica." Ambos estavam na solenidade.

Em rápida entrevista, se recusou a falar de eleições. "Só discuto depois que houver convenção e definições", disse.

COLABOROU EVANDRO FADEL