Título: Marilena Chauí acha que PT é que deve dar tom ao 2º mandato
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Nacional, p. A6

No caso de se eleger para um segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a obrigação política de governar de acordo com as diretrizes do seu partido, o PT, coisa que não teria feito no primeiro mandato. Se não o fizer, corre o risco de perder o apoio do partido e dos movimentos sociais.

A análise é da filósofa Marilena Chauí, a principal referência intelectual do PT. Na segunda-feira à noite, durante um debate para o lançamento do livro Leituras da Crise, da Editora Fundação Perseu Abramo, ela disse: "Vamos fazer um programa, e o governo vai governar de acordo com ele. Senão é tchau e bênção."

Marilena afirmou ser compreensível o fato de Lula não ter seguido o programa do PT no primeiro mandato, uma vez que "se elegeu muito cedo, quando a luta de classes não havia definido a hegemonia da classe trabalhadora". E acrescentou: "Entendo todos os motivos pelos quais o governo Lula teve que fazer as alianças que fez, ter os ministros que teve, entendo tudo isso."

Agora, no entanto, a situação é outra, de acordo com a professora da USP: "Considero muito grave, dispondo de sujeitos políticos de primeira linha e de um programa de primeira linha, que, num segundo mandato, isso não se concretize pelo menos parcialmente."

Ao tratar das pesquisas sobre intenções de voto, que apontam Lula como favorito, a filósofa observou que devem ser vistas com cuidado, uma vez que na política institucional as mudanças ocorrem velozmente: "Os políticos do partido devem assegurar que essa situação se consolide. Mas nossa preocupação não deve ser apenas em termos eleitorais."

Para Marilena, o PT e os movimentos sociais têm a obrigação de empurrar Lula para que governe de acordo com um programa mínimo do partido. Por outro lado, Lula tem que favorecer o ascenso dos movimentos: "Ele tem que ser protagonista do ascenso dessa hegemonia."

Leituras da Crise é constituído por quatro entrevistas, conduzidas pelo cientista político Juarez Guimarães, também filiado ao PT. Além de Marilena, foram ouvidos o teólogo Leonardo Boff, João Pedro Stédile, do MST, e o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.

Stédile, que também participou do debate de lançamento, observou que Lula governou ao lado de setores das classes dominantes, representados no seu ministério por Luiz Furlan e Roberto Rodrigues, entre outros. Ele brincou: "É um governo transgênico."

COLABOROU MARIANA CAETANO