Título: 'Vou dizer que há alternativas políticas, vou atrás da juventude'
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Nacional, p. A7

Candidato à Presidência da República pelo PDT, solitariamente, já que não conseguiu alianças partidárias, o senador Cristovam Buarque diz que fará um discurso voltado para a juventude e para a necessidade de realizar uma revolução na educação. Ao contrário de outros candidatos, contudo, não assegura que vai ganhar a disputa.

Diz, no entanto, que sua candidatura é para valer. Mesmo que fique longe do segundo turno, o ex-ministro da Educação do governo petista pretende gastar o tempo que vai ter disponível no horário eleitoral gratuito de rádio e TV - cerca de três minutos pela manhã e igual tempo pela tarde - batendo sempre na mensagem de que há alternativas para o País além do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PSDB de Geraldo Alckmin.

Cristovam explica que sua proposta de campanha não é destruir o que foi feito pelos governos anteriores. "Se vencer, quero aproveitar a estrutura que já existe. Se for preciso, vamos melhorá-la. É o caso da educação. Não quero fazer um governo que olhe para o passado, que tente destruir o que já existe. Eu proponho um governo que olhe para o futuro e saiba aproveitar as coisas boas do passado."

Segundo o candidato do PDT, a atual geração de políticos tem a obrigação de deixar plantados os pilares para as futuras gerações. A seguir, sua entrevista ao Estado:

O senhor acha que dá para vencer a eleição? Como posso dizer isso tendo apenas 1%? Os marqueteiros dizem que todo candidato pode ganhar. Eu não sou marqueteiro. Não vou dizer isso. É o eleitor que vai dizer. Não vou dizer nada que não venha do coração. Mas vou dizer para o Brasil que há alternativas políticas, vou atrás da juventude. Se isso vai levar a uma vitória ou não, isso é o eleitor que vai dizer.

O PDT vai disputar sozinho? Não tentará alianças? Tentamos trabalhar alianças, mas os partidos, como o PV e o PMN, não puderam fazê-las, por causa da cláusula de barreira que assustou a todos. O partido terá de conseguir pelo menos 5% dos votos no País e pelo menos 2% em nove Estados. No nosso discurso, nós vamos deixar claro que só é possível governar este País com uma concertação de partidos. Nenhum partido no País tem maioria para governar sozinho.

O que o senhor fará para conquistar a juventude? Vou usar a mídia que chega à juventude, como internet e torpedos, mecanismos paralelos à mídia tradicional. Vou mostrar que o País que a juventude vai herdar não será melhor só por pequenos jeitinhos na economia, pequenas melhorias no real. As melhorias têm de vir da educação. É preciso fazer uma revolução na educação, que assegure oportunidades iguais para todos. Isso só se consegue fazer se você cuida das crianças desde a primeira infância. É preciso dizer também que não basta oferecer isso para eles. É preciso convocá-los para isso. Eles têm uma chance rara para ajudar a mudar a história do País. A juventude dos países desenvolvidos já descobriu que outros já fizeram tudo para ela e, agora, vive no tédio. Aqui, nós temos esse desafio.

O senhor foi ministro da Educação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Onde foi que Lula errou? Lula falhou ao suspender os programas que comecei em 2003, como a erradicação do analfabetismo, a certificação federal dos professores e a Escola Ideal. Se tivesse mantido a Escola Ideal, hoje teríamos escolas em período integral em pelo menos 500 cidades. Lula errou também ao se submeter ao corporativismo, desviando o dinheiro da educação básica para o ensino superior.

O fato de o PDT ter candidatura própria a presidente não prejudica as alianças do partido nos Estados? Figuras histórias do partido, como o deputado Alceu Colares (RS), Jackson Lago e Mateus Schimidt entendiam que não deveríamos ter candidato a presidente da República, porque seríamos prejudicados. Ao ouvir os argumentos deles, tive minhas dúvidas. Cheguei a pensar que poderiam ter razão. Depois me convenci de que lançar um candidato a presidente pode ajudar o partido a superar as dificuldades da cláusula de barreira, porque pode render mais votos.

O senhor vai denunciar corrupção no governo do qual fez parte? Não vou discutir a superficialidade da corrupção. A podridão da corrupção tem que ser limpa, mas é preciso também tirar a ferrugem dos ossos. Queremos refutar a corrupção na política, mas não só na política e sim também no uso dos recursos públicos.

Se eleito, o senhor vai manter programas do governo Lula? Ou vai refazê-los? Não proponho destruir o que foi feito por outros governos, alternativa que muitas vezes é trabalhada pelos que vencem as eleições. Se vencer, quero aproveitar a estrutura que já existe. Se for preciso, vamos melhorá-la. É o caso da educação. Não quero fazer um governo que olhe para o passado, que tente destruir o que já existe. Eu proponho um governo que olhe para o futuro e saiba aproveitar as coisas boas do passado. Quero um governo que tenha sustentação na juventude, que fale a língua dos jovens, mas ao mesmo tempo que aproveite a experiência das gerações mais velhas. A geração de políticos atual tem a obrigação de deixar plantados os pilares do futuro para as gerações que chegarão.