Título: EUA ativam seu sistema antimíssil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Internacional, p. A11

Os EUA ativaram seu sistema de defesa antimíssil em meio à possibilidade de a Coréia do Norte testar um míssil balístico capaz de alcançar o território americano, informou um funcionário do Pentágono. O complexo conta com interceptador de mísseis, avançadas estações de radares e retransmissão de informações para detectar e derrubar um míssil inimigo antes que chegue perto do território americano.

A Coréia do Norte declarou ontem ser livre para fazer testes com mísseis, alegando que a moratória auto-imposta em 2002 só vale quando o país está em diálogo com os EUA, e não está atrelada a acordos anteriores (a declaração conjunta feita nas negociações de desarmamento de 2005 entre as Coréias, China, Japão, Rússia e EUA). Pyongyang foi claro ao avisar que os estrangeiros não têm direito de criticar suas ações, informou a agência japonesa Kyodo, citando o funcionário da chancelaria norte-coreana Ri Pyong-dok. Horas depois, o vice-chefe da representação do país na ONU, Han Song-ryol, disse que o governo gostaria de reduzir a tensão por meio de conversações com os EUA. Em Seul, o ex-presidente sul-coreano Kim Dae-jung decidiu suspender a viagem que faria na próxima semana à Coréia do Norte.

Os EUA e o Japão disseram que considerarão sanções contra o empobrecido Estado comunista e levarão o caso ao Conselho de Segurança da ONU se o teste for realizado. O histórico da Coréia do Norte - incluída pelo governo Bush no chamado eixo do mal com Irã e Iraque - é preocupante. Já demonstrou, em 1998, ter capacidade de atingir Tóquio quando disparou um míssil sobre o norte do Japão.

Um funcionário de alto escalão dos EUA informou na segunda-feira que a Coréia do Norte tinha terminado de abastecer um míssil intercontinental, possivelmente um Taepodong-2, e apenas esperava as condições meteorológicas propícias para testá-lo. Mas novas imagens de satélites americanos sugeriram ontem que o míssil ainda está sendo abastecido.

O serviço de inteligência sul-coreano manifestou dúvidas sobre se a Coréia do Norte está realmente pronta para o lançamento. Informações indicam que o míssil já está posicionado em uma plataforma, mas o volume dos tanques de combustível captados pelos satélites na área de preparação não devem conter as 65 toneladas necessárias.

Segundo o chanceler sul-coreano, Ban Ki-moon, a Coréia do Norte poderia estar tentando demonstrar que pode lançar uma arma nuclear em um míssil balístico como um modo de barganhar em futuras conversações sobre seu programa de armas nucleares. Os EUA disseram que o teste com o míssil, que pode atingir a Costa Oeste americana, será considerado uma provocação e destacaram que não são os únicos que estão advertindo a Coréia do Norte sobre as graves conseqüências se levar seus planos adiante.

Os EUA estão tentando fazer com que mais países ameacem Pyongyang com maior isolamento. A secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, falou por telefone com o chanceler sul-coreano, enquanto que o embaixador americano na ONU, John Bolton, conversou com membros do Conselho de Segurança. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, "a idéia é ver como podemos trabalhar juntos para obter segurança e estabilidade".

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse ontem em Paris que está preocupado com a questão e lembrou ao governo norte-coreano o risco de criar uma situação ainda mais complicada para seu país. "Espero que os líderes da Coréia do Norte nos escutem e compreendam o que o mundo lhes está dizendo. Devemos evitar que este tipo de arma se multiplique, principalmente numa região tão sensível", disse ele.