Título: Aeroportos vivem um dia de caos
Autor: Mariana Barbosa, Isabel Sobral e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Esperas intermináveis, incertezas e falta de informação. O drama vivido ontem pelos passageiros da Varig é um exemplo do que virá se a empresa parar de operar. São poucas as empresas que estão aceitando passageiros com bilhete endossado pela Varig e, aquelas que aceitam têm poucos lugares disponíveis.

A decisão de segunda-feira da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) de expulsar a Varig do acordo de compensação de bilhetes entre companhias agravou a situação. Dentre as empresas internacionais, apenas algumas daquelas que são parceiras da Varig na rede Star Alliance, como TAP e Lufthansa, aceitaram passageiros da Varig ontem.

As empresas brasileiras estão aceitando passageiros de vôos cancelados da Varig por conta de uma solicitação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). No entanto, como é alta temporada e os vôos estão lotados, os passageiros estão enfrentando grande dificuldade para embarcar.

O casal Marcos Roberto e Fabiana Campos, acompanhado de um filho de 5 anos e dois gêmeos de 4 meses, saiu às 8h30 de Curitiba com destino a Manaus, mas ficou preso na escala em São Paulo. Às 18 horas, eles continuavam no aeroporto sem saber como chegar ao destino. "Fiquei uma hora na fila da TAM, mas não consegui fazer check-in, pois o vôo estava lotado", diz Marcos Roberto. "Não sei se vou para Congonhas tentar pegar outro vôo da TAM ou espero até às 23 horas para pegar outro da Varig, que não tem garantia de que vai sair."

A professora americana Carole Williams, que está visitando amigos no Brasil, ia passar três dias no Rio, mas perdeu um no aeroporto. "Fiquei três horas em uma fila para conseguir endossar o bilhete e não sei se vou conseguir embarcar. Ao menos me diverti com um show de capoeira."

O show foi a forma que o grupo de 12 dançarinos e capoeiristas da Fundação Água de Beber, de Fortaleza, encontrou para chamar a atenção da Varig. Após um protesto, aos gritos de "Iga Iga Iga, a Varig está falida", o grupo conseguiu negociar um hotel para o caso de precisarem passar a noite em São Paulo.

"Não temos a quem recorrer; os vôos estão lotados", disse a capoeirista Ana Beatriz Graça Duarte. "A Varig fala para reclamarmos na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), mas a gente chega lá e eles dizem que não podem fazer nada. Nos deram uma ficha de reclamação que não vale nada."

Os cancelamentos afetaram sobretudo os vôos internacionais. Não saiu nenhum vôo para os Estados Unidos e para a América Latina. Ontem, até às 20 horas, estavam previstos apenas um vôo para Londres (com atraso de duas horas) e outro Frankfurt. Para acomodar parte dos passageiros do vôo para Madri, o vôo para a Alemanha faria uma escala excepcional na Espanha.

O casal Marcos Claudius Varela e Mércia passou a noite de segunda para terça-feira no aeroporto, por conta de um vôo para Madri que foi sendo sucessivamente adiado e acabou por ser cancelado na madrugada. Até ontem à noite eles não haviam decidido se voltavam para Natal, onde moram, ou se tentavam embarcar para Frankfurt. "Pagamos R$ 9 mil por um pacote de dez dias na Europa e vamos cobrar da Varig e da agência de viagem na Justiça", afirmou Marcos. "Depois de passar a noite no aeroporto, quero mais é voltar para casa", completou Mércia. "Se embarcarmos, que garantia teremos que conseguiremos voltar para casa depois?"