Título: Viajar pela Varig é não ter hora para chegar
Autor: Mariana Barbosa, Isabel Sobral e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A sensação de quem compra uma passagem da Varig é de que não vai voar. Ontem, das 13 aeronaves que normalmente fazem a ponte aérea Rio-São Paulo, apenas duas estavam operando. Pela manhã, 3 vôos foram cancelados no Aeroporto de Congonhas e 5 no Santos Dumont.

Quem comprou passagem para sair de São Paulo no vôo das 13h01 teve a impressão de que não chegaria ao Rio. No balcão de check-in, a funcionária da Varig, nitidamente constrangida em ter que comunicar tantos cancelamentos, disse que o vôo deveria atrasar 20 minutos, depois 40, uma hora e por fim, abriu o jogo. Orientou os passageiros que chegaram com antecedência ao aeroporto a viajarem no vôo de 12h15. "Depois disso, não garanto mais nada. Sinceramente, sugiro que embarquem o quanto antes porque à tarde ninguém sabe o que vai acontecer."

No avião, com capacidade para uma centena de pessoas, havia umas duas dezenas. Mesmo diante da aeronave vazia - reflexo da crise -, os comissários mantiveram o sorriso no rosto e atenderam a todos como se nada estivesse acontecendo.

Entre os passageiros, estavam três comissárias de bordo de vôos internacionais da Varig. No portão de embarque, elas ouviam no rádio as últimas notícias sobre a venda da companhia.

Uma delas, funcionária da empresa há 21 anos, soube da decisão na segunda-feira, antes de ir trabalhar, mas ainda não tinha os detalhes. "Uma amiga me ligou para contar a novidade. Fiquei em prantos de tão feliz", comentou.

A comissária, que pediu para não ser identificada, disse que está trabalhando mesmo sem o salário completo de maio. Todos receberam no último mês apenas R$ 1 mil. Inclusive o piloto do vôo, Fernando, funcionário da Varig há 22 anos. "É como num casamento. Precisamos ser firmes mesmo na época de vacas magras."

No vôo que saiu do Aeroporto Santos Dumont para São Paulo, às 16h30 - depois dos cancelamentos das 15h03 e 15h40 -, apenas 28 das 138 poltronas estavam ocupadas. Por pouco a empresa não voou com um a menos. A médica Vera Mattos, com medo de cancelamentos, tentou mudar de companhia, mas não conseguiu. Tinha hora marcada para chegar em São Paulo e não sabia se com a Varig isso seria possível. No final, deu certo.

Um outro passageiro, o engenheiro Eduardo Casagrande, comentou que o maior receio agora é com a manutenção das aeronaves. "Como a empresa está numa situação complicada, temo que daqui a pouco apareçam problemas técnicos." Já o pesquisador Marcelo Guerra acha difícil que isso aconteça. "Pelo que tenho percebido, a empresa está abrindo mão de cuidados menores, para fazer a manutenção do que é extremamente necessário."

No lanche aéreo, apenas bebidas e barrinhas recheadas com creme de banana ou goiaba. A quem recusasse o doce era oferecido amendoim salgado.