Título: 'Se a Varig quebrar, paciência'
Autor: Mariana Barbosa, Isabel Sobral e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Economia & Negócios, p. B1
O governo criou um gabinete de crise para acompanhar a situação da Varig. O órgão já se reuniu ontem, em caráter de emergência, no Ministério da Defesa, com executivos de empresas aéreas para saber como elas podem assumir as rotas da Varig e evitar transtornos aos passageiros.
Apesar da homologação de compra da Varig pelo grupo TGV pela Justiça do Rio, no governo já se admite que a Varig poderá parar de voar em breve. Ontem, pela primeira vez, o ministro da Defesa, Waldir Pires, que sempre foi defensor de alguma forma de apoio governamental à Varig, mostrou desalento com o futuro da companhia.
"O que não desejamos que aconteça é que a Varig entre em falência, mas, se entrar, paciência", disse. "As pessoas vivem e morrem. Assim é também com empresas. Mas, se for possível salvá-la, vamos salvá-la."
Em alguns setores do governo há preocupação com o ônus político que a quebra da Varig poderá ter para o Planalto. A três meses das eleições, Lula não quer ser visto como o presidente que deixou fechar uma empresa que já foi classificada como "retrato do Brasil". A estimativa é que a paralisação da Varig levará à perda de pelo menos 6 mil dos 12 mil postos de trabalho, já que as demais companhias não conseguirão absorver mais que metade dos funcionários da empresa.
O gabinete de crise foi criado na segunda-feira pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Sob o comando da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o grupo conta com representantes da Infraero, Itamaraty, Gabinete de Segurança Institucional, Comando da Aeronáutica, Ministério do Turismo e Polícia Federal.
O primeiro dia de trabalho foi intenso. Houve conversas em separado com representantes de todas as empresas aéreas para discutir a divisão das linhas e esquemas de socorro aos passageiros. De acordo com informações das empresas, a Anac impôs exigências às companhias para que elas pudessem ser incluídas no plano de contingência, o que desagradou as menores, como BRA, WebJet e Ocean Air.
A Anac quer que as companhias resgatem os passageiros e arquem com eventuais despesas de alimentação e hospedagem, tanto em vôos nacionais quanto internacionais.
A Anac quer ainda que as companhias aceitem bilhetes já emitidos da Varig, mesmo que o passageiro não tenha usado o primeiro trecho, mas não especificou o prazo em que essa regra valeria.
Em contrapartida, o que sobrasse da Varig seria dividido entre todas as concorrentes. As empresas menores não concordaram sob a alegação de que a TAM e a Gol já teriam se beneficiado durante o processo de perda de mercado da Varig. Acham que só elas deveriam participar da divisão.
A maior preocupação da Anac é com as linhas internacionais, especialmente com as rotas em que só a Varig opera como companhia brasileira. É o caso de Frankfurt e Milão, principais destinos das pessoas que foram à Europa assistir à Copa do Mundo. Nesse caso, emergencialmente, a TAM deverá ser acionada para assumir as linhas, principalmente para trazer os passageiros de volta.
Depois, se houver outras interessadas, será aberta uma concorrência. Caso esta solução não seja suficiente, até mesmo aviões da FAB poderão ser usados para trazer passageiros de volta ao Brasil. Haverá ainda pedidos de acomodação de passageiros em empresas estrangeiras da Star Alliance.
A TAM poderá também fazer, extraordinariamente, a linha que a Varig tem para Madri. Mas, nesse caso, a possibilidade ficou condicionada à disponibilidade de aviões. Está previsto que no mês que vem a BRA comece a voar duas vezes por semana para Lisboa e Madri. Há a previsão também de que a TAM opere para Caracas.
No caso dos vôos nacionais, as divisões estão sendo negociadas, mas a expectativa é que poderão ocorrer problemas apenas nas primeiras 24 ou 48 horas. Por isso, a Infraero está reforçando o pessoal nos aeroportos para auxiliar os passageiros.