Título: Homologação é xeque-mate no TGV
Autor: Mariana Barbosa, Isabel Sobral e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A homologação da proposta dos Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) de compra da Varig foi só uma estratégia da Justiça para dar um xeque-mate ao lance, relatam fontes próximas do Judiciário. Aprovando a proposta e dando início à contagem de 72 horas para o depósito inicial de US$ 75 milhões, a comissão de juízes responsáveis pela recuperação judicial da empresa "pôs na parede" o grupo de empregados, evitando o recurso que uma eventual reprovação provocaria.

Fontes que acompanham de perto as negociações garantem que o TGV não conta com um investidor capitalizado, ao contrário do que dizem seus coordenadores. O TGV, por meio da empresa Nova Varig (NV) Participações, tem até sexta-feira para depositar a primeira parcela do lance de US$ 449 milhões e validar o negócio, mas a origem do dinheiro ainda é uma incógnita.

A situação remete há quatro anos, quando a Associação de Pilotos da Varig (Apvar), embrião do atual TGV, garantia ter um investidor com US$ 250 milhões pela Varig, que nunca foi apresentado ou mesmo conhecido. A falência ressurge como a hipótese mais provável e a causa ficaria vinculada à organização de funcionários, livrando a Justiça de qualquer ônus.

Caso o TGV não deposite o dinheiro, a Justiça trabalha com três hipóteses. A primeira é a decretação da falência, sem continuidade do negócio. A outra seria a falência continuada e a terceira, a alienação da Varig a outro investidor.

A falência continuada foi estudada durante o fim de semana passado, com o apoio da estatal portuguesa TAP e da Air Canada, na parte operacional. O banco brasileiro Brascan, controlado pelo fundo canadense de investimentos Brookfield, daria o suporte financeiro.

O presidente da TAP, o brasileiro Fernando Pinto, que relatou essa negociação ao Estado na semana passada, disse ontem que estará no Rio de Janeiro por mais duas semanas. "Estamos esperando (para ver) o que vai acontecer", respondeu, ao ser indagado se ainda teria interesse na Varig, mesmo após a homologação da proposta de R$ 1,010 bilhão do TGV.

A TAP parece não estar só na espera pelo término do prazo para o depósito. Representantes do fundo americano de investimentos Matlin Patterson estiveram na Varig na manhã de ontem. O fundo pagou, em dezembro, US$ 48,2 milhões pela VarigLog, por meio da filial Volo do Brasil, criada apenas para o negócio.

Em abril, a VarigLog ofereceu US$ 350 milhões pela ex-controladora, mas retirou a oferta. "O Fernando Pinto já correu fora. O Matlin Patterson é quem tem o dinheiro", diz outra fonte que acompanha as negociações.

Anteontem, logo após a homologação de sua proposta, o TGV chegou a anunciar a necessidade de implementar um plano de contingência, pois havia a ameaça de perder 19 aviões.

Ontem, um pouco depois de divulgar que apenas 25 aeronaves estavam operando e 36 estavam paradas, o TGV recuou e, após reuniões com a direção da empresa, informou que qualquer plano de emergência deveria ser decidido pelo presidente da Varig, Marcelo Bottini. A Varig preparava ontem uma relação oficial de aviões em operação e paradas, mas até o fechamento desta edição, não a divulgou. Segundo Bottini, a Varig tem um plano de contingência "há anos" para o caso de paralisação. Bottini esteve com representantes do TGV para discutir os primeiros passos de uma transição.

A intenção é dar prioridade às rotas mais rentáveis, como as para a Europa.