Título: À frente do negócio, uma entidade virtual
Autor: Mariana Barbosa, Isabel Sobral e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A recuperação da Varig por vezes ganha ares de simulação, de processo fictício. A começar pelos investidores. O Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) é uma entidade virtual, sem registro. Não existe como empresa, nem como entidade sindical ou associativa. É apenas uma sigla criada para reunir cinco associações de funcionários do grupo: de Pilotos da Varig; Pilotos da RioSul; Pilotos da Nordeste; Mecânicos de Vôo e Comissários da Varig.

Os representantes das associações se uniram para enfrentar a crise na empresa. Há três anos, antevendo que a situação se agravaria ainda mais, criaram a Nova Varig (NV), esta sim constituída como pessoa jurídica para representar o TGV. A NV é o que se conhece como sociedade de propósito específico. Não tem patrimônio, nem lucro, nem receita. Foi criada só para um projeto.

A empresa tentou obter recursos do BNDES para aplicar na Varig. Mas o banco não financia clientes que não comprovem capacidade de pagar o empréstimo. A mesma NV inscreveu-se no leilão e apresentou a única proposta, mas não consegue esclarecer de onde vai tirar o dinheiro para pagar pela empresa. O juiz demorou onze dias para aprovar a proposta e, mesmo assim, condicionando a homologação ao depósito inicial de US$ 75 milhões. Ou seja, nem mesmo a aprovação da compra é fato consumado.