Título: Leilão da Varig é adiado para quinta
Autor: Alberto Komatsu, Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Economia & Negócios, p. B20

Investidores pediram tempo para obter informações; havia o risco de não aparecer nenhum candidato à compra

O leilão da Varig foi adiado de segunda para quinta-feira, por decisão da Justiça. O prazo final para acessar as informações financeiras (data room) da companhia estava marcado para amanhã, mas foi estendido para quarta-feira.

A iniciativa de pedir o adiamento partiu da Varig. A companhia pediu mais tempo para os investidores interessados no leilão prepararem suas propostas. ¿Este adiamento é demanda dos investidores para analisar números, fazer sua arquitetura financeira e viabilizar recursos para fazer um lance no leilão¿, afirmou o presidente da Varig, Marcelo Bottini. Ele não quis revelar qual o investidor teria pedido mais prazo.

Há duas versões para explicar o pedido de adiamento. A primeira é que os investidores querem tempo para obter garantias que não vão herdar dívidas trabalhistas da Varig. Sem as garantias, havia o risco de não aparecer nenhum candidato no leilão na segunda-feira.

Pela segunda versão, a pressão teria vindo do fundo de investimentos canadense Brookfield, controlador do grupo Brascan no Brasil, que não teria tido tempo para elaborar uma proposta.

Segundo fontes de mercado, investidores se reuniram com o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, responsável pela recuperação judicial da Varig, para pedir garantias que o comprador não herdará dívidas trabalhistas. Ayoub teria dito que não seria possível porque havia chances de derrota em instâncias superiores. O TJ negou o encontro.

Além disso, o empresário German Efromovich, dono da Ocean Air, apontado como principal candidato à compra da Varig, teria se reunido com o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. Efromovich teria pedido uma carta com garantias que as permissões de pouso e decolagem (slots) permaneçam com o vencedor do leilão.

O presidente da Anac nega ter recebido o pedido de Efromovich. Segundo ele, a OceanAir tem contatos freqüentes com a agência para solicitar o aumento de suas linhas.

O leilão está cercado de dúvidas. Desde que os dados financeiros da companhia foram colocados à disposição, na quarta-feira, investidores demonstraram preocupação com a falta de informações, inclusive sobre quais são os ativos à venda.

Até agora, apenas a TAM, a Gol, a companhia aérea portuguesa TAP, a OceanAir e o escritório de advocacia Ulhôa Canto pagaram R$ 60 mil para entrar no data room da Varig. A consultoria Azulis Capital, que diz representar um banco franco suíço, estava prestes a acessar o data room da Varig, mas desistiu de participar do leilão, conta Ivone Saraiva, sócia do Azulis.

O escritório Ulhôa Canto estaria representando o grupo canadense Brookfield, usando o codinome ¿céu azul¿ para identificar o fundo nas reuniões.

Seu interesse pela Varig provoca polêmica. ¿O problema é que o Brookfield é dono do Brascan, que é o administrador do FIP Controle. Há um conflito de interesses¿, diz uma fonte que participa da concorrência. O FIP Controle é o fundo que vai abrigar as ações da Fundação Ruben Berta, dona da Varig, e que será usado para credores converterem suas dívidas em cotas, que serão negociadas no mercado.

O escritório Ulhôa Canto confirmou que pediu o adiamento em nome de seu cliente, mas negou que represente o Brookfield.

¿Esse adiamento era o melhor que podia ter acontecido. Vai fazer com que os investidores se sintam mais seguros e aumente a disputa¿, afirma o juiz Paulo Roberto Fragoso, que integra a comissão de juízes do Tribunal de Justiça do Rio que cuida da recuperação judicial da Varig.

Membro do conselho consultivo do grupo Sinergy, controlador da OceanAir, Jório Dauster considerou positivo o adiamento. ¿Qualquer tempo adicional é sempre útil. O pouco tempo até o leilão era uma aflição geral, não só para a OceanAir¿, afirma.

De acordo com Dauster, ainda é cedo para dizer se a OceanAir vai participar do leilão, porque essa decisão pode ser tomada ¿no último minuto¿.