Título: Kirchner e Evo vão negociar preço do gás
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Economia & Negócios, p. B11

Encontro para fechar acordo dependerá das emoções da Copa do Mundo

O presidente Néstor Kirchner vai acertar com seu colega da Bolívia, o presidente Evo Morales, o preço que a Argentina pagará pelo gás boliviano. As negociações serão fechadas pelos dois presidentes nos próximos dias, durante a viagem de Evo a Buenos Aires. Esta será a primeira visita de Estado de Morales desde que tomou posse.

Segundo fontes do governo, as equipes técnicas dos dois países conseguiram estabelecer as bases para o acordo, que teria uma banda de preços. Essa banda poderia oscilar entre US$ 4,50 e US$ 5,50 o milhão de BTU (unidade de medida do gás). Atualmente, a Argentina paga quase US$ 3,20. Os detalhes do acordo seriam acertados durante a visita de Evo à Argentina.

Nas negociações com a Bolívia, o governo argentino agiu sem coordenação com o Brasil, já que para o governo Kirchner não convinha o desgaste de prolongadas discussões.

A dependência argentina do gás boliviano é muito inferior à brasileira. A Argentina importa da Bolívia somente 5% do gás que consome. O país começou a precisar do gás boliviano há dois anos, quando o reaquecimento da economia - após meia década de recessão - começou a demandar um volume crescente de energia para as indústrias. Para complicar, parte do gás produzido pela Argentina, por acordos assinados no final dos anos 90, deve ser exportado para o Chile.

O esgotamento das atuais jazidas e a falta de investimentos na descoberta e exploração de novas reservas na Argentina estão criando um cenário no qual o país será um grande importador de gás em poucos anos. Em 2005 a Argentina importou 4,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Em 2015, deverá importar até 94 milhões de metros cúbicos, segundo a Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos.

Porém, a fixação do preço do gás boliviano poderá demorar um pouco mais do que o esperado, já que fatores externos à economia, à diplomacia ou questões energéticas podem complicar a agenda dos presidentes.

Isso porque a definição dos dias da visita de 48 horas de Evo Morales a Kirchner vai depender do andamento da Copa do Mundo. Ao contrário da Argentina, a Bolívia não participa do torneio. Porém, os dois presidentes pretendem tirar proveito político dessa cúpula e aparecer na mídia regional e mundial. Caso a Copa esteja no meio de momentos emocionantes, a dupla de presidentes não terá o espaço desejado na mídia, e o acordo sobre o preço do gás vai esperar mais alguns dias.