Título: Petrobrás negocia a devolução das refinarias
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Economia & Negócios, p. B10

Estatal não quer ser sócia minoritária da YPFB e pede que companhia boliviana pague por todo o ativo. Pagamento pode ser em gás natural

A Petrobrás colocou na mesa de negociação com a Yaciamentos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) a devolução das duas refinarias de petróleo que controla desde 1999 na Bolívia. Gualberto Villarroel, de Cochabamba, e Guillermo Elder Bell, de Santa Cruz de la Sierra, são responsáveis pela produção da maior parte dos derivados de petróleo consumidos no país. Produz 70% do diesel consumido na Bolívia. A capacidade de processamento de ambas é de 40 mil barris de petróleo por dia.

Segundo uma fonte que acompanha de perto as negociações, a estatal informou que não tem interesse em ser sócia minoritária das refinarias. A direção da Petrobrás Bolívia, por intermédio da Assessoria de Comunicação, confirmou ontem a disposição de devolver os dois ativos, mas negou ter iniciado discussões sobre como esse pagamento será feito.

Segundo a fonte, a decisão da Petrobrás vincula a negociação a dois outros temas: o valor da compensação a ser paga pelo controle integral dos ativos e como esse pagamento será feito. Os dois pontos estão em fase inicial de conversação. A YPFB parece ter interesse em assumir o controle total das refinarias, mas teria condicionado a aceitação desta proposta ao pagamento integral em gás natural, por não ter recursos financeiros para pagar o valor, apenas o combustível.

COMPENSAÇÃO No Rio, o diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer, afirmou que a estatal aceita o gás natural como compensação pela transferência das refinarias. A conclusão de um acordo, porém, depende da definição do preço do gás, tema principal na negociação entre as duas empresas. "Para nós, tanto faz se eles pagam em gás ou em dinheiro. No fim das contas, é a mesma coisa", afirmou.

O diretor da Petrobrás explicou que os detalhes da proposta boliviana estão sendo discutidos pelos grupos de trabalho formados para este fim. Segundo ele, a Petrobrás recebe todos os dias cerca de US$ 3,5 milhões em gás boliviano. A expectativa é que o valor das refinarias seja abatido do pagamento pelas importações do contrato atual, já que a companhia não trabalha neste momento com a possibilidade de importar novos volumes da Bolívia.

A saída da Petrobrás, segundo a fonte ouvida pelo Estado em La Paz, resulta em dois problemas: a definição do valor correto dos ativos e o preço final do insumo, que será usado como moeda na compra. "A questão é a seguinte: se houver uma auditoria contratada por cada uma das partes, haverá a necessidade de se contratar uma terceira para se chegar um valor comum. Isso pode demorar".

A negociação do preço entrará necessariamente no valor do gás natural exportado para o Brasil, disse a fonte. Com isso, prevê-se que o governo boliviano vai pressionar para aumentar o preço do gás, o que reduziria a quantidade de reservas que a Bolívia daria como garantia ao pagamento do valor das refinarias. A Petrobrás, acrescentou a fonte, aceita ser sócia minoritária por alguns meses, período necessário para que os diretores nomeados pelo governo boliviano tenham condições de assumir integralmente as refinarias.