Título: Juro é o menor desde julho de 94
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Uma boa notícia para o consumidor: em abril, a taxa média do juro dos crédito bancário para a pessoa física, tradicional vilã das finanças pessoais, recuou para o nível mais baixo desde julho de 1994. "A taxa de 57,8% ao ano é a menor da nossa série histórica", informou ontem o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Altamir Lopes.

Os dados preliminares do BC indicam que a trajetória de queda dos juros pode ter continuado em maio. "Nos primeiros sete dias úteis do mês passado, a taxa caiu mais 1,8 ponto porcentual", disse Lopes.

A redução, para o chefe do Depec, foi acentuada por dois fatores conjunturais: "A entrada dos empréstimos de adiantamento da restituição do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e a queda mais forte dos juros nas operações com desconto em folha".

O custo das operações de antecipação da restituição tende a ser menor porque o risco de calote é reduzido. Para o crédito com desconto em folha (consignado), o chefe do Depec não sabe a causa da queda acelerada das taxas. "Depende muito do comportamento das instituições usadas como base para o cálculo da taxa", disse ele.

O fato é que a taxa nessa modalidade de empréstimo apresentou queda de 2,7 pontos porcentuais em abril, para 34,3% ao ano, a mais baixa desde o início da série do BC, em janeiro de 2004. "O porcentual corresponde a 2,49% ao mês, menor que o teto de 2,9% ao mês fixado nesta semana para empréstimos consignados para aposentados do INSS", observou Lopes.

O chefe do Depec destacou o crescimento de 3,2% do saldo dos empréstimos com desconto em folha feitos pelos trabalhadores da iniciativa privada. "A participação dos trabalhadores de empresas privadas nessa modalidade de crédito vem crescendo gradativamente", comentou. Apesar disso, a maior fatia desses empréstimos ainda é dos funcionários públicos e aposentados do INSS.

Em abril, a participação do crédito consignado no total do crédito pessoal concedido pelos bancos caiu de 48,2% para 47,7%. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde a criação desse empréstimo, em 2004. Mas, segundo o BC, isso ocorreu porque aumentaram muito as operações de antecipação do IR, e não porque houve perda de interesse pelo consignado. O saldo das operações com desconto em folha até cresceu, de R$ 36,4 bilhões em março para R$ 37,2 bilhões em abril.

O recuo nas taxas de juros, segundo Lopes, também foi influenciado pelas recentes decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa básica, a Selic. "As taxas de juros para as famílias estão caindo em linha com a descompressão da política monetária", afirmou Altamir.

Ele admitiu que, para o futuro, os juros ao consumidor poderão ser afetados pela elevação das incertezas no mercado financeiro. "Como essas operações têm prazos maiores, isso poderá ocorrer, mas não de modo muito forte." O impacto ocorreria com o repasse da alta dos juros futuros para o custo do empréstimo bancário.

UM AUMENTO A má notícia foi a elevação do juro bancário para a compra de bens duráveis, como televisão, geladeira e máquina de lavar (exceto automóveis). Nessas operações, a taxa aumentou 2,5 pontos porcentuais, dos 56,9% ao ano de março para 59,4% ao ano. A explicação foi o crescimento da inadimplência, de 7,3% para 7,4%. No caso dos veículos, a taxa caiu de 34,4 % para 34,1% ao ano.

"Com o aumento das vendas do comércio, era de se esperar o crescimento da inadimplência", disse o chefe do Depec. Ele lembrou que no primeiro trimestre as vendas cresceram perto de 5%. No fim de 2005, o calote estava em 6,7%.

Com taxas mais em conta, o total de empréstimos bancários cresceu 1,9% e chegou a R$ 637,8 bilhões no fim de maio. O valor, segundo Lopes, corresponde a 32,1% do Produto Interno Bruto (PIB). "Ainda temos baixa relação entre empréstimos bancários e PIB", comentou. Para Lopes, ainda há espaço para expansão. Em 12 meses, até abril, o crescimento acumulado estava em 20,3%.

O aumento tem sido puxado pelas operações de crédito sem direcionamento obrigatório, com aumento de 24,5%. Em abril, os recursos que os bancos podem aplicar livremente somaram R$ 385,4 bilhões, 2,3% mais que em março.