Título: PSDB abandonou escola pública de propósito, diz Lula
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Nacional, p. A4

Presidente aproveita solenidades em São Paulo para atacar Alckmin e política educacional de tucanos

Um dia depois de ter trocado publicamente farpas com o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a fazer críticas ao adversário na disputa pelo Palácio do Planalto. Lula aproveitou a presença em São Paulo - Estado governado pelo tucano até 31 de março - para atacar sua política educacional e também a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Sem citar os adversários nominalmente, Lula usou discurso de improviso no lançamento do Programa Jovem Aprendiz para acusá-los de abandono "premeditado" da escola pública. "Vou dar um dado para vocês ficarem surpresos", anunciou ele à platéia, formada na maioria por quase 300 jovens carentes que vão ser beneficiados pelo programa. "Todo o sistema de ensino público no Estado de São Paulo, que é o maior da Federação, tem hoje apenas 18% dos estudantes universitários em escola pública; 82% estão em escolas privadas, em uma demonstração de que foi premeditado o abandono da escola pública neste país."

Antes, o presidente já havia mencionado que em 1998 - durante a gestão de Fernando Henrique - o Ministério da Educação decidiu que o governo federal não ia mais ser o responsável pelo ensino técnico. "Deixou-se de investir em escola técnica", anotou Lula, para, em seguida, destacar que revogou a lei e ainda em 2006 vai inaugurar 32 escolas técnicas. Da mesma forma, disse que "há muito tempo não se fazia universidade" no Brasil. "E nós, nesses 42 meses de governo, já estamos fazendo quatro universidades federais novas, já transformamos seis faculdades em universidades e estamos fazendo 42 extensões universitárias, todas começando neste ano." Acompanhado do senador Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo paulista, Lula também falou do ProUni, principal programa na área de educação em sua gestão. Citou dados do projeto, sobretudo em São Paulo, reduto de Alckmin.

PETROBRÁS

As críticas aos tucanos não ficaram restritas à educação. Lula também fez menção à Petrobrás. "Não faz muito tempo que altos dirigentes da Petrobrás diziam na televisão e escreviam nos jornais que o Brasil não estava preparado para construir plataformas (...) e uma série de outras coisas que agora estamos produzindo." E concluiu: "Se nós não depositarmos confiança na nossa gente, na nossa indústria, no nosso trabalhador, quem é que vai acreditar em nós? O nosso concorrente? O nosso concorrente vai querer nos asfixiar."

Usando como exemplo sua própria trajetória - o menino pobre que fez curso de torneiro mecânico e chegou à Presidência - , Lula também disse "que pobre não rejeita pobre". O presidente tem ampla vantagem a Alckmin sobretudo entre as classes sociais mais baixas. Entre as estratégias do PT para reeleger Lula está a de rotular Alckmin como o candidato dos ricos.

O presidente também voltou a fazer referência à onda de violência em São Paulo há três semanas. A área de segurança pública é considerada o calcanhar-de-aquiles da gestão de Alckmin no Estado. Para Lula, bandidos como os integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) optaram pelo caminho do crime porque, quando crianças, não tiveram "esperança e escolaridade".

Antes de participar do lançamento do Programa Jovem Aprendiz, Lula abriu a segunda edição do Salão do Turismo Roteiros do Brasil. O tom do discurso na primeira agenda foi mais descontraído, mas não menos ácido.

"O governador não pode ficar chorando que não tem turista", disse, ao cobrar dos governadores ações para que divulguem seus Estados e, dessa maneira, atraiam mais turistas. "Ninguém vai querer fazer turismo porque tem violência em São Paulo ou porque tem PCC aqui e no Rio de Janeiro. Se tiver muita coisa ruim, o máximo que vai é a Polícia Federal."

Bem-humorado com sua performance nas pesquisas, apesar da gripe - "que me deixou com a voz mais fanhosa" -, Lula disse que o dia de ontem era o "dia da colheita". "Nós plantamos e não foram poucos os que acharam que o nosso pé de laranja tinha morrido. Não foram poucos os que ficaram sapateando e dizendo 'isso aqui não vai dar em nada'. E hoje nós estamos tomando um gostoso copo de suco de esperança."