Título: Pesquisas - visibilidade e credibilidade
Autor: Sandra Cavalcanti
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2006, Espaço Aberto, p. A2

O noticiário policial continua fervendo. O País ainda vive horas de aflição e agonia. E Lula prossegue, tranqüilo, em sua campanha eleitoral, debochando do povo de forma cínica, percorrendo o País, usando das regalias e dos confortos que o cargo põe a seu dispor.

Tudo é pretexto para alegres excursões, com platéias garantidas. A própria cobertura jornalística dá a impressão, às vezes, de que se deixa empolgar pela excelência do tratamento VIP que, graças ao nosso rico dinheirinho, o Tesouro Nacional oferece à caravana... Não pode causar surpresa, nem estranheza, que todas as recentes pesquisas eleitorais retratem o que está ocorrendo.

A realidade é que, nesta fase que antecede o período legal de campanha, não podem ser utilizados parâmetros confiáveis para uma comparação justa. As entrevistas técnicas, por exemplo, estão captando até agora, com bastante precisão, a grande diferença que existe entre o presidente e os demais pretendentes ao cargo, em matéria de visibilidade e popularidade.

É como se, numa corrida de 200 metros rasos, o corredor da raia 1 tivesse o direito de largar 100 metros na frente dos outros.

Os meios de comunicação, as televisões de maior audiência e as redes de rádio projetam diariamente a figura do presidente. Transmitem, quase sempre na íntegra, os mesmos intermináveis monólogos e as mesmas surradas tiradas pedagógicas que são a marca registrada das lideranças populistas sul-americanas.

O fato real, portanto, é o seguinte: Lula não precisa conquistar sua visibilidade junto ao eleitorado. Aliás, não tem nem como ampliá-la, pois mais de 90% de todos os eleitores sabem quem é Lula. Afinal, esta vai ser a quinta vez que ele pede voto aos brasileiros para presidente da República...

Quanto às pesquisas realizadas nesta fase, é importante saber ler e decifrar, com espírito crítico, alguns quesitos que têm que ver com a disposição dos eleitores. O porcentual de indefinidos é impressionante!

Pelos números obtidos até agora, a conclusão óbvia é a seguinte: a fantástica exposição de Lula e a sua contínua visibilidade não significam muita coisa, a não ser como propaganda enganosa.

E como andam os outros candidatos em matéria de visibilidade? Estão cumprindo a lei. Não podem fazer campanha. Aparecem muito pouco e, mesmo quando isso acontece, correm o risco de ser matéria negativa, vinda exatamente dos Planaltos da vida...

Diante dessas restrições, acho até que os índices deles estão sendo bastante expressivos. Principalmente os que vêm sendo alcançados pelo candidato Geraldo Alckmin. Afinal, esta é a primeira vez que seu nome sai do reduto de seu Estado e tenta ser conhecido no restante do País. Do ponto de vista de visibilidade e exposição na mídia, a senadora Heloisa Helena, por exemplo, era até bem mais conhecida do que ele.

Alckmin partiu da estaca zero - ali pelos 9%. Assim que tornou seu nome mais conhecido, com o lançamento da pré-candidatura, dobrou o índice. Foi só aparecer melhor para ser alvo de todas as flechas da mídia ligada ao PT. Com tudo isso, ele se vem mantendo tranqüilo, num patamar excelente. Para Alckmin e para os outros, a lei existe. Não podem fazer campanha...

No caso de Alckmin, tenho uma opinião muito positiva. Quando a campanha começar para valer, ele vai ser a grande surpresa política deste pleito. Não tenho receio algum. Acho que o eleitorado dele vai aumentar do mesmo modo que ocorreu na eleição para o governo de São Paulo em 2002. Na hora em que Alckmin alcançar o mesmo patamar de visibilidade, ele vai ter todas as condições para ser um páreo duro na hora de conquistar a credibilidade!

É exatamente no quesito credibilidade que reside a fraqueza de Lula e do PT. Esse é seu ponto fraco. Eles jogaram esse trunfo pela janela... O País inteiro sabe, hoje, à custa de grandes decepções, o que Lula e seus companheiros de cobiça aprontaram para o País. Não perderam só a confiança de grande parte da sua gente, mas perderam completamente a confiança de todos os que, ingenuamente, romantizaram o que seria o poder na mão calejada do bom operário...

Nosso país vai às urnas, em outubro, mais traumatizado que nunca. Mesmo que venha o hexacampeonato mundial de futebol, até lá os gritos da torcida já terão silenciado. Até lá o MST continuará invadindo propriedades, roubando gado, destruindo centros de pesquisa, amedrontando todos os que plantam e produzem no País. Até lá continuarão impunes todos os que se utilizaram do poder para enriquecimento ilícito. Até lá o presidente Lula continuará achando que as facções criminosas só existem porque brasileiros pobres não estudaram e não arranjam emprego! Até lá ele continuará a envergonhar o Brasil perante o mundo, permitindo que um caudilhozinho atrevido nos deixe acuados, como se fôssemos uma Nação imperialista e exploradora.

Mas até lá, felizmente, ele vai ter de descer do palanque único. Vai ter de se explicar. Vai ter de dialogar. Vai ter de mostrar que sempre soube de tudo ou que nunca soube de nada.

Vai ser a fase que dará ao povo os elementos para discernir. Vai ser igualzinho ao que foi em São Paulo quando o Alckmin veio lá de trás e atropelou... Lembram-se? É só perguntar ao Genoino.

Visibilidade é uma coisa. Credibilidade é outra. Visibilidade é TV, rádio, jornal, dinheiro... Credibilidade é biografia! É patrimônio ético! É seriedade de palavra!

Estou tranqüila, pois. Como dizia o letreiro que vi num carro de Rio Verde, em Goiás: "Vou de Alckmin. E você?"