Título: Hezbollah ataca e Israel reage com invasão do Líbano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Internacional, p. A13

Israel bombardeou ontem o Líbano e invadiu o país pela primeira vez em seis anos, em resposta a um intenso ataque de foguetes do grupo islâmico libanês Hezbollah a seu território. A aviação e a Marinha israelense chegaram a lançar bombas numa área a 16 quilômetros de Beirute, usada como base de um grupo palestino.

Com seu ataque o Hezbollah abriu uma segunda frente para o Exército de Israel, que desde o dia 25 mantém uma ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza para forçar a ala militar do grupo islâmico Hamas a libertar um soldado e pôr fim a disparos de foguetes contra cidades israelenses.

Nos ataques de ontem morreram oito soldados israelenses, três civis libaneses e dois membros do Hezbollah. O grupo capturou dois militares de Israel e anunciou que espera trocá-los por libaneses e palestinos detidos em prisões de Israel (ler ao lado). A proposta foi rejeitada.

O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, qualificou o ataque de "ato de guerra" do Líbano, responsabilizou seu governo (do qual o Hezbollah faz parte) e ordenou bombardeios contra alvos do grupo e a infra-estrutura civil libanesa. A aviação despejou bombas sobre pontes e estradas perto de Beirute e da cidade de Saida, no sul do país, e posições do Hezbollah.

Seis mil reservistas foram convocados para a frente norte e o governo ordenou que todos os moradores de cidades do norte de Israel fossem para abrigos subterrâneos ou deixassem a região temporariamente. À noite, uma reunião de emergência do gabinete de Olmert aprovou "medidas severas", não especificadas. Ele também pediu a intervenção do Conselho de Segurança da ONU.

Em Beirute, o primeiro-ministro Fuad Siniora declarou que não sabia das intenções do Hezbollah, não as endossava nem se responsabilizava por elas, mas culpou Israel pela crise. Já o presidente do Líbano, Emile Lahoud - um ferrenho aliado da Síria - expressou apoio ao Hezbollah e acusou Israel de pôr em perigo a estabilidade do Oriente Médio.

Desde a retirada israelense do Líbano, em 2000, a fronteira entre os dois países se mantinha relativamente tranqüila.

O Hezbollah deu início ontem à nova escalada ao disparar seguidamente foguetes contra povoados no norte israelense, na região de Shlomi, perto da fronteira libanesa. Depois, militantes cruzaram a divisa e lançaram um ataque contra dois veículos militares de Israel. Três soldados foram mortos, dois feridos e outros dois capturados e levados para o Líbano.

Tropas entraram no Líbano para resgatar os soldados e um tanque acabou passando sobre uma mina de grande impacto. Quatro militares israelenses morreram na explosão e um quinto ao tentar socorrê-los. Depois, começou um confronto com militantes do Hezbollah, dos quais dois foram mortos.

A notícia da captura de dois israelenses desencadeou comemorações no Líbano e na Faixa de Gaza. "As pessoas estão celebrando aqui porque vêem essa ação como uma espécie de vingança e retaliação contra o que Israel está fazendo em Gaza", disse Salah Bardawil, porta-voz do Hamas em Gaza. Os EUA culparam a Síria e o Irã, países que apóiam o Hezbollah, mas o governo sírio se desvencilhou do ataque, justificando-o como "ação da resistência palestina e israelense".