Título: Potências enviam caso do Irã de volta ao Conselho da ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Internacional, p. A14

Seis potências mundiais concordaram ontem em encaminhar o Irã de volta ao Conselho de Segurança (CS) da ONU para possível punição, alegando que o país não deu sinais de que pretende manter negociações sérias sobre seu controvertido programa nuclear.

Chanceleres dos EUA, França, Grã-Bretanha, Rússia, China (membros permanentes do Conselho), mais a Alemanha, disseram que o Irã já teve tempo suficiente para dizer se aceita as condições para uma negociação aberta sobre os incentivos econômicos e energéticos oferecidos ao país em troca da suspensão do enriquecimento de urânio. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, afirmou que o Conselho de Segurança deixará claras as conseqüências da rejeição do acordo. O enriquecimento de urânio pode produzir combustível para um reator civil ou material físsil para uma bomba. EUA e aliados suspeitam que o programa nuclear iraniano seja fachada para um programa de armas.

"Os iranianos não deram nenhum sinal de que estejam prontos para tratar seriamente da essência de nossas propostas", disse o ministro do Exterior francês, Philippe Douste-Blazy em nome das seis potências e também da União Européia.

Manifestando "profunda decepção", os chanceleres dos seis países afirmaram, após reunião ontem em Paris, que não têm escolha "a não ser voltar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas" e retomar o curso de possível punição ou pressão que haviam abandonado em maio, na esperança de chegar a um acordo.

Mas qualquer punição ou pressão concreta no Conselho de Segurança ainda está distante e poderá ter oposição de Rússia e China, que mantêm laços comerciais com o Irã e têm poder de veto. Os dois países já manifestaram anteriormente sua oposição a sanções econômicas. Ontem, o chanceler russo, Serguei Lavrov, se disse desapontado com a falta de uma resposta positiva do Irã. Contudo, Lavrov voltou a ressalvar que o uso da força está totalmente descartado. O grupo de chanceleres enfatizou que retornará à resolução inicial do Conselho de Segurança exigindo que o Irã suspenda o enriquecimento de urânio. O debate começará já na semana que vem. O comunicado salientou ainda que, se o Irã não ceder, o grupo buscará uma ação mais severa.

O subsecretário de Estado americano Nicholas Burns, principal negociador do governo Bush na questão do Irã, disse que os EUA ficaram satisfeitos com a ação firme das potências, devolvendo o caso ao Conselho de Segurança. "É uma decisão significativa que reflete com franqueza a decepção e frustração de nossos países com a falta de uma resposta séria", disse ele. Os EUA e outros países queriam que o Irã respondesse até ontem se aceita as condições para o início da negociação. As seis potências pressionavam por um acordo antes da cúpula do Grupo dos Oito (os sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia), que começa sábado em São Petersburgo. O governo iraniano argumentou, porém, que precisa de mais tempo e só responderá em 22 de agosto.

Pouco antes da reunião dos chanceleres em Paris, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, declarou que o país está pronto para conversar sobre seu programa nuclear num "clima justo", mas não abrirá mão do que considera seus direitos. O Irã insiste em que o programa nuclear se destina apenas à produção de energia elétrica.