Título: Ordem geral do PCC: 'atacar tudo'
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Metrópole, p. C1

Ao contrário de maio, quando a polícia soube com dois dias de antecedência dos planos de ataque e rebeliões do Primeiro Comando da Capital (PCC), desta vez a inteligência da Polícia Civil só interceptou às 22h50 de anteontem a primeira mensagem da cúpula da facção para um piloto (gerente). O salve (ordem) era geral e mandava "atacar tudo". Saulo Abreu, o secretário de Estado da Segurança Pública, só foi informado pelos subordinados sobre a nova onda de atos terroristas do PCC às 2h20 de ontem.

O comandante-geral da PM, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, afirmou que não houve falha. Segundo ele, a Inteligência da PM é informada sobre ordens para ataques a policiais desde maio, mas a maioria delas não se cumpre. "Mantivemos o alerta desde então."

Para justificar os ataques aos seus subordinados, os líderes do PCC resolveram ordená-los como uma resposta ao que chamam de "opressão carcerária". Esta envolveria desde o isolamento dos líderes do PCC até o confinamento nas penitenciárias de Araraquara e Itirapina de presos mantidos ao relento depois das rebeliões que destruíram as duas unidades.

"O PCC está fazendo propaganda para os presos", disse um delegado do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). Para o secretário Saulo Abreu, tratou-se de uma represália à possibilidade de transferência dos líderes do PCC para o presídio federal de Catanduvas (PR).

Os ataques de ontem à noite seriam, assim, uma forma de a organização aparecer aos olhos dos detentos como um grupo que "defende os direitos da população carcerária". A principal suspeita é que a ordem para os ataques partiu dos presos da Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau, onde estão isolados os líderes da facção.

A nova ordem significou uma mudança da estratégia adotada em 22 de junho, quando o PCC decidiu reiniciar a guerra. Naquele dia, Emivaldo Silva Santos, o BH, líder do PCC preso anteontem, recebeu a incumbência de preparar a guerra. No dia 26, um preso mandou a advogada Valéria Dammous retransmitir a ordem de matar agentes e evitar policiais.

A mudança de orientação do PCC deixou claro à polícia a necessidade de a facção mostrar que ainda tem forças. A organização privilegiou nesses novos ataques a surpresa para manter a superioridade numérica e evitar a reação policial. A ordem para os ataques chegou na última hora. A facção evitou, assim, o risco de um planejamento prolongado ser detectado pela polícia e terminar com a prisão ou a morte de seus integrantes, como ocorreu em São Bernardo do Campo, onde uma operação policial deixou 13 homens do PCC mortos e 5 presos.

A Inteligência da Polícia Militar, por exemplo, desconfia que os ataques vão se prolongar de forma intermitente até o fim deste ano. Tudo dependerá de como os atentados e a reação policial afetarão a capacidade de mobilização da facção.