Título: Nova onda de atentados inclui supermercados
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Metrópole, p. C1

Dos alvos civis atacados ontem na capital, quatro ficam a menos de cinco quadras de distância de alguma base da Polícia Militar ou de uma delegacia. "Antes eu até procurava passar perto da base da polícia, hoje eu desvio", contou uma aposentada que se identificou como Tereza.

A aposentada é moradora do prédio que fica em cima de uma agência bancária do Bradesco, na região da Sé, que foi atacada às 2h30 de ontem. "O pessoal está assustado com tudo isso", contou o porteiro Osvaldo Bezerra. A agência foi atingida por um coquetel molotov. "Só queimaram um pouco as cortinas da sala de máquinas", contou um funcionário. Na Mooca, outra agência foi alvo dos criminosos - a porta giratória e parte do teto do Itaú, na Rua da Mooca, foram destruídos pelo fogo às 3h30. Um funcionário prevê prejuízo de pelo menos R$ 40 mil. No estacionamento do banco, um carro também foi atingido por uma bomba.

Por volta de 11 horas, os desavisados chegavam ao banco para pagar as contas e se espantavam com a destruição. Um caixa eletrônico do Itaú, na Avenida Santo Amaro, zona sul, e uma agência em Mauá, no ABC, também foram atacados, mas não houve grandes estragos. Às 20h30, outras duas agências foram alvos de bomba - uma do Banco do Brasil e outra do Bradesco, localizadas na Avenida do Rio Pequeno, na zona oeste.

A diferença desses últimos atentados em relação aos ocorridos em maio são os novos alvos - supermercados e lojas de veículos. "Eu trabalho há 15 anos nessa região e nunca vi algo assim", contou Mauro Strobeli. Ele tem uma banca de jornal em frente ao CompreBem da Rua Condessa de São Joaquim, na Bela Vista, que foi atacado por volta das 2h30. Uma hora depois, o Pão de Açúcar localizado na Rua Maria Antônia, em Santa Cecília, região central, foi o novo alvo. Os dois locais tiveram os vidros estilhaçados à bala e, em cada um, foi jogado um coquetel molotov.

"Eu ouvi o barulho. Fiquei em dúvida se era uma explosão", contou o despachante Luiz Cláudio. Quando ele desceu para ver o que tinha acontecido ouviu tiros, provavelmente os disparos contra a base da PM na Rua Major Sertório, a três quadras dali. No vidro do mercado foi deixado um papel com a frase: "Contra a opressão carcerária". O grupo Pão de Açúcar, dono dos dois supermercados, disse que não houve perda de produtos.

Uma concessionária na Mooca também foi incendiada. Cinco carros foram queimados. Elias Milton de Oliveira, de 21 anos, foi preso pelo incêndio e, segundo a Secretaria da Segurança Pública, ele pertencia ao PCC.

Os ataques a agências provocaram reações e medidas por parte das empresas, como reforço de segurança e até o encaminhamento de clientes para outros locais, como no caso do Itaú.

INDIGNAÇÃO

O Itaú, em nota oficial, informou que tomou medidas para a rápida reabertura das agências de Mauá e da Mooca e disse confiar nas autoridades para imediata volta à normalidade. O Bradesco e o Santander Banespa, que também tiveram agências atingidas, se manifestaram por meio de nota oficial da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que demonstrou "indignação em relação aos ataques contra agências bancárias". O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região também divulgou nota manifestando repúdio e indignação com os ataques e enviou comunicado à Febraban exigindo "que as agências onde não houver condições de segurança para bancários e clientes permaneçam fechadas".

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, a escalada da violência é um absurdo. "Não há tranqüilidade para produzir, estudar e viver."