Título: Pequena cidade é surpreendida pelos tiros
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Metrópole, p. C1

Tiros e explosões de 25 veículos acordaram ontem a tranqüila Santa Isabel, cidade de 47 mil habitantes na Grande São Paulo. A investida do PCC foi considerada pelos moradores como "a chegada dos terroristas".

O terror tomou a cidade em três ações, em um intervalo de apenas 15 minutos, na madrugada de ontem. O primeiro ataque foi a uma concessionária de veículos usados, a Pabel Car, no centro do município. Coquetéis molotov e tiros provocaram as explosões de alguns carros. Os estrondos despertaram a atenção dos policiais civis que faziam plantão na delegacia vizinha à concessionária. Mas não deu tempo de os policiais reagirem. Dois criminosos em uma moto atiraram seis vezes contra a delegacia, atingindo paredes e portas. Ousada, a dupla ainda lançou uma faixa com os dizeres "Opressão Carcerária". Não deu nem tempo de os policiais anotarem as placas da moto.

O terceiro ataque foi à Câmara. O vigilante que estava no local contou à polícia que ouviu o barulho de um estampido na entrada da Casa. Quando chegou ao local, ouviu o barulho de uma moto. Os bandidos haviam destruído a tiros o portão de vidro do prédio. Antes de escapar, deixaram outra faixa com a mesma frase de protesto.

No caso da concessionária, moradores se mobilizaram para tentar apagar o fogo que consumia os veículos. "Nós gritávamos pedindo socorro sem saber para quem, já que a cidade não tem bombeiro. Estamos reféns dos bandidos e do descaso do governo", disse Maria da Graça Antunes, de 56 anos.

Equipes dos bombeiros de Arujá chegaram à concessionária somente 40 minutos após o início do incêndio. Durante o trabalho para consumir as chamas, a água acabou. "Alguém vai se responsabilizar por isso. Vou processar a Secretaria da Segurança Pública", disse, revoltada, Silze Morgado, filha do proprietário da Pabel Car, Delcindo Morgado. Delcindo estimou em R$ 300 mil o prejuízo por causa dos ataques da facção criminosa. Nenhum carro tinha seguro.

O estabelecimento sustentava diretamente as famílias dos quatro filhos, além dos funcionários. "Ele era comerciante em São Paulo, mas veio para Santa Isabel há seis anos em busca da tranqüilidade. Ele queria segurança e paz. Agora, vai sofrer o restinho da vida refém da impunidade", contou a filha.

Às 11 horas de ontem, donas de casa rezavam na esquina da delegacia. Algumas choravam. "Pelo amor de Deus, a população não tem culpa de nada", disse Maria de Lourdes Alves, de 47.