Título: Na Baixada, 3 mortes e atentados em 6 horas
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Metrópole, p. C1

Nem bem o salve do PCC tinha sido dado e criminosos já agiam no litoral sul de São Paulo. Às 22h50 de anteontem, houve a primeira ocorrência. Um carro passou em frente da casa de um policial militar do Guarujá e disparou vários tiros. A polícia foi ao local, mas não encontrou balas ou testemunhas. "O policial achou melhor não fazer boletim de ocorrência. Mas foi um primeiro aviso", diz o major Roberto Alves, porta-voz do comando local. Ao longo de seis horas, três pessoas seriam assassinadas e uma série de atentados abalaria a região.

Às 23h30, viria o primeiro assassinato. Como de costume, com procedimentos covardes. O segurança Gilton Alves dos Santos, de 43 anos, que trabalhava desarmado no Instituto Médico-Legal (IML) do bairro de Morrinhos, chamou seu colega Wagner, guarda no cemitério ao lado, para tomar café. Os dois ouviram batidas insistentes na porta do IML e Gilton foi olhar quem era. Três pessoas armadas com pistolas 380 iniciaram os disparos.

Do lado de fora, baleado, Gilton implorou para que Wagner abrisse a porta: "Wagner, não quero morrer". Desarmado e com medo, Wagner demorou a atender. "Podiam ser os bandidos. Arrastamos ele para o quarto para esperar socorro, mas não deu tempo e ele morreu", lamenta.

'ALEMÃO'

A um quilômetro de distância, à 0h20, novo assassinato com procedimentos parecidos. O segurança Everson de Souza Silva, de 38 anos, estava no Centro Comunitário de Morrinhos com um colega, quando ouviu batidas na porta e chamados por "alemão". Loiro, achou que era com ele. Acabou baleado. Os autores fugiram de bicicleta. "Gilton era uma pessoa correta, disciplinada e trabalhava havia 20 anos com a gente. O Everson estava havia dois e deixa uma filha de 2 anos", diz Rinaldo da Rocha, supervisor de segurança da Guarda Patrimonial, empresa onde Gilton e Everson trabalhavam.

"Como não trabalhamos armados, recomendamos hoje cuidados aos agentes e estaremos em contato permanente."

Lojas, bancos e supermercados também foram atacados. E ônibus queimados.

Quando o dia amanhecia, na estrada Guarujá-Bertioga, um grupo passou barbarizando a cada quilômetro. Na altura do km 6, pôs uma bomba caseira num caixa eletrônico. No km 7, esperou num beco a passagem de um ônibus da Translitoral, entrou pela frente, mandou os cerca de 30 passageiros descerem, colocou gasolina e ateou fogo. As chamas se alastraram para o telhado do restaurante Pescador, feito de palha, que se incendiou rapidamente. Um quilômetro à frente, dispararam contra o Supermercado El Campo, sem ferir ninguém.

Às 5h20, mais um assassinato. O segurança Adriano dos Santos Bezerra, de 28 anos, chegava para trabalhar na empresa de cargas MRS, perto das barcas de Vicente Carvalho. Estava em seu Gol com um colega e parou o carro para esperar o trem passar.

Dois encapuzados chegaram e mandaram os dois colocarem as mãos na cabeça. Dispararam apenas em Adriano.

Seguranças da Guarda Ferroviária, que trabalham perto do local, passaram o dia aterrorizados. Quando a reportagem do Estado chegou para entrevistá-los, um dos guardas colocou as mãos no revólver e expulsou o repórter do local.

ALGEMADOS

A polícia agiu rapidamente. Às 11 horas, sete pessoas já haviam sido presas - dois delas menores de idade. Com cara de assustados, três jovens circulavam algemados pela delegacia de Guarujá após terem sido presos com bombas caseiras e revólver calibre 38.

O delegado seccional da Baixada Santista, Elpídio Laércio Ferrarezi, não acredita que os ataques a vigias privados sejam nova estratégia do PCC. "São ataques aleatórios. Eles recebem ordens e executam para estabelecer terror. Como os seguranças estão desarmados, fica mais fácil."