Título: Nova onda de terror
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Metrópole, p. C1

O Primeiro Comando da Capital (PCC), que tinha iniciado há exatos dois meses a maior onda de violência da história paulista, decidiu mostrar ao governo de São Paulo que ainda tem força. Em menos de 24 horas, aconteceram 75 ataques em 19 cidades, contra 86 alvos - a maioria ônibus, bancos e pontos de comércio -, com 6 mortos, conforme os dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública.

E o número de ataques pode ser ainda maior. Há três mortes não esclarecidas, que podem ter ligação com o PCC. Desta vez, os atentados não tiveram como alvo apenas policiais e agentes penitenciários. Morreram também dois civis e três seguranças particulares. Pelo menos dois PMs ficaram feridos. O número de ataques supera o das primeiras 24 horas da onda de maio, quando ocorreram 69 atentados, com 28 mortos.

Houve 25 ataques a ônibus só na capital paulista. Por conta disso, ontem à noite algumas empresas já recolhiam os carros, como VIP, Viasul, Nova Aliança, Gato Preto, Paratodos, Cidade Dutra e Himalaia. Em Parada de Taipas, zona norte, 150 mil devem ficar sem condução, pois a Cooperativa Fênix teve três ônibus destruídos. Não havia informações sobre a operação de outras linhas.

Para o secretário da Segurança, Saulo Abreu, tratou-se de uma represália à possibilidade de transferência dos líderes do PCC para o presídio federal de Catanduvas (PR). Outro motivo levantado foi a revolta com o confinamento de detentos nos pátios dos presídios de Araraquara e Itirapina - os atentados seriam a forma de mostrar aos presos que o PCC defende direitos da população carcerária.

"Ao contrário de maio, desta vez, os bandidos passaram rapidamente pelos alvos", afirmou o coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, comandante da PM. Em 20 casos, os criminosos estavam de moto. Deram tiros em direção ao alvo sem se importar se o tinham atingido ou não. "É para fugir da nossa reação."

O primeiro ataque na capital ocorreu à zero hora de ontem, quando o PM Odair Lorenzi, de 29 anos, esperava a mulher voltar do trabalho. Ele ouviu alguém chamá-lo na porta, foi atender e levou quatro tiros. A irmã, Rita de Cássia, de 39, saiu na janela e também foi baleada.

"Os bandidos estão aterrorizando São Paulo e temos que tomar atitudes", disse, na Bahia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou a recusa do Estado em aceitar tropas. "Não é oportuna nem necessária a ajuda", rebateu o governador Cláudio Lembo (PFL).

A polícia prendeu sete suspeitos dos ataques. Nas ruas, as notícias de violência voltaram a assustar. Mas, desta vez, não houve pânico.

Para enfrentar os ataques, o Estado determinou a volta dos bloqueios policiais na capital e das barricadas nas delegacias e quartéis da PM. Além disso, o Tático Móvel, a Rota e unidades de choque voltarão a concentrar seu trabalho à noite. Foi essa política que levou a polícia a matar 122 suspeitos de integrar o PCC entre 12 e 20 de maio. A inteligência da PM desconfia que os ataques podem se prolongar, de forma intermitente, até o fim do ano.