Título: Presidente eleva o tom para não ser acusado na campanha
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Metrópole, p. C9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu elevar o tom do discurso sobre a falta de segurança pública em São Paulo para não ser responsabilizado por omissão na acirrada campanha eleitoral. O governo federal quer deixar claro que está preocupado com a nova onda de ataques do PCC e vem fazendo a sua parte. Além de oferecer ajuda da Força Nacional e esbravejar ao saber da recusa do governador Cláudio Lembo, Lula, ainda em Salvador, conversou por telefone com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, orientando-o a marcar o novo encontro com Lembo.

Na prática, o Planalto pretende mostrar que é a oposição, capitaneada por PSDB e PFL, que está politizando a questão da segurança, ao não aceitar ajuda federal. Tucanos e pefelistas, do seu lado, dizem que Lula usa "salto 15" e tenta se aproveitar da tragédia com fins eleitorais, para provocar o ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à sua sucessão.

Pesquisas que orientam o governo e a campanha de Lula à reeleição indicam que a falta de segurança é uma das principais queixas de todas as classes sociais. Para contrariedade do presidente, alguns levantamentos revelam ainda que a população não sabe distinguir responsabilidades: se são do governo federal ou dos Estados.

Não é à toa que ele vive repetindo que sua gestão tirou do papel um plano engavetado desde 1984: o Sistema Penitenciário Federal. O presídio de Catanduvas (PR), para onde líderes do PCC devem ser transferidos, é a primeira das cinco unidades desse sistema - considerado de segurança máxima - que vai funcionar como uma espécie de estoque da saturada estrutura carcerária dos Estados.

Até mesmo na reunião ministerial de terça-feira - que serviu para municiar os ministros com informações para defender o governo durante a campanha -, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, lembrou que, embora exista há 22 anos, o plano que prevê a construção de presídios federais nunca fora adotado. "E só saiu agora porque o Márcio ficou 4 anos no governo", disse Lula, em tom bem-humorado, numa referência ao ministro da Justiça.

ARGUMENTO

Para que a imagem de ineficiência no trato da segurança pública não cole também sobre sua gestão, Lula vai bater na tecla de que o Planalto faz de tudo para estabelecer mecanismos solidários e de cooperação com todos os Estados. Mas deixará claro, como disse em Salvador, que o governo federal não pode tomar nenhuma medida sem a aceitação dos Estados. É esse o tom do discurso que será repisado daqui para a frente.

De qualquer forma, o presidente insistirá em que a sociedade não pode ser acuada pelo medo e pelo crime organizado, com centrais de comando nas penitenciárias. Não sem motivo: quer demarcar suas diferenças com o governo Alckmin.