Título: Lula: bandido não pensa em eleição
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Metrópole, p. C9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a resistência do governo de São Paulo em aceitar a oferta de uso da Força Nacional de Segurança e do Exército. Em Salvador, Lula classificou a situação do Estado de grave e fora de controle, cobrou uma atitude dos governantes paulistas e afirmou que a oferta será repetida hoje de manhã ao governador Cláudio Lembo pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

"Os bandidos não estão preocupados se vai ou não vai ter eleição. Os bandidos estão aterrorizando São Paulo e nós temos que tomar atitudes. Isso não foi feito ano passado, retrasado, porque não aconteceu o que está acontecendo hoje", disse, ao ser questionado se a questão da segurança em São Paulo não pode ser afetada pela disputa eleitoral. A pergunta o irritou. "Então vamos criar um país de mudos, porque não se pode falar nada", reclamou. "O dado concreto é que os fatos existem."

Na entrevista em Salvador, onde participou da abertura da 2ª Conferência de Intelectuais da África e Diáspora, Lula disse que a situação em São Paulo é hoje uma de suas maiores preocupações. Apesar de tentar amenizar as críticas ao governo paulista, não escondeu a irritação com as constantes recusas de Lembo em aceitar a Força Nacional. "Na sexta-feira reiteramos a proposta que já havia sido feita no primeiro atentado. Ele (Lembo) disse que não precisava", contou. "Parto do pressuposto de que ele diz que tem controle. Mas se tem controle não poderia estar acontecendo o que está acontecendo." Lula de novo cobrou que Lembo aceite a ajuda. Afirmou que o governo federal não pode fazer nada sem a concordância do governo do Estado ou seria intervenção.

"Queremos colocar o governo federal à disposição do governador, para encontrar uma solução e fazer com que o povo paulista possa dormir e acordar tranqüilo todo dia", disse. Mas foi irônico ao comentar declarações de Lembo de que a situação está dentro do normal e o Estado pode controlar o problema. "Agora, se São Paulo continua achando que a situação está normal, que pode tomar conta da situação, o governo federal não pode fazer nada."

Indagado se achava que a situação estava dentro do normal, respondeu: "Pelo que vejo na imprensa, não está normal. Todo dia é a morte de um carcereiro, todo dia é um ônibus queimado. Obviamente isso vai pondo a sociedade em pânico. Acho que São Paulo, pelo que representa para o Brasil, merece ser tratada com carinho especial."

Lula reiterou sua boa relação com Lembo e repetiu que não haverá nenhuma atitude unilateral porque seria intervenção e isso "não está nas previsões da democracia brasileira". Mas foi ele mesmo que levantou o assunto na entrevista, dizendo-se extremamente preocupado. E insistiu que está tudo nas mãos do governo paulista. "Estamos aguardando que as autoridades de São Paulo digam se querem ou não querem (a ajuda)", disse. "Eu acho que a situação é grave porque não estamos enfrentando bandidos comuns. Estamos enfrentando uma indústria do crime. Uma indústria que resolve matar policiais, matar carcereiros, pessoas inocentes, queimar ônibus, invadir supermercados." Lula lembrou que a Força Nacional está no Espírito Santo e Mato Grosso do Sul e garantiu que lá ajudaram a melhorar a situação. "É só perguntar para os governadores de lá se a situação melhorou ou não."