Título: Sondagem da FGV mostra que industriais estão bem otimistas
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

A indústria começa o segundo semestre do ano com prognósticos bem otimistas para o nível da produção, da demanda e, especialmente, do emprego, embora esteja insatisfeita com a situação atual dos negócios. Os resultados fazem parte da Prévia da 160ª Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que confirma a tendência de reaquecimento gradual do setor.

"Ainda é um pouco complicado saber se essa recuperação é sustentável", afirma o coordenador da sondagem, Aloisio Campelo Jr. Ele pondera que a maior ameaça para que esse crescimento se mantenha no longo prazo vem do lado fiscal. "A carga tributária é elevada e, nos últimos meses, o governo teve menos parcimônia nos gastos, o que preocupa."

A pesquisa, que ouviu 513 indústrias em 24 Estados entre 29 de junho e o dia 10 deste mês, teve dois resultados surpreendentemente favoráveis: o nível de emprego e a situação dos negócios para os próximos seis meses.

De acordo com a enquete, 25% das indústrias informaram que pretendem contratar neste trimestre, ante 8% que planejam demitir. O saldo entre os extremos é 17 pontos porcentuais, o terceiro melhor resultado em 11 anos e mais que o dobro da média histórica para o período nos últimos 10 anos, que é de 8 pontos. Ante julho de 2005, o saldo também é superior.

"Nos trimestres anteriores, o emprego não estava se mexendo e faltava o desejo dos empresários da indústria de contratar", observa Campelo Jr. Ele lembra que nas últimas sondagens outros indicadores apontavam para a recuperação, exceto o emprego. Agora a reação na perspectiva de contratações reflete a confiança das empresas no futuro.

A expectativa de negócios para os próximos seis meses é igualmente favorável. Segundo a pesquisa, 54% das indústrias acreditam que os negócios vão melhorar, ante 11% que apostam na piora. O saldo de 43 pontos porcentuais entre os extremos supera os 26 pontos de julho do ano passado e está muito acima da média histórica recente, que é de 36 pontos.

PRODUÇÃO Além do emprego, as perspectivas de produção e demanda são igualmente favoráveis para este trimestre. A sondagem mostra que 43% das indústrias acreditam no aumento da demanda e apenas 13% apostam na diminuição. O saldo de 30 pontos entre os extremos não é muito diferente do obtido no ano passado, mas está dentro da média histórica recente, diz Campelo Jr.

Já com relação à produção esperada para este trimestre, 50% das indústrias esperam produzir mais entre julho e setembro, enquanto 14% prevêem diminuição. Apesar do saldo de 36 pontos porcentuais entre os extremos ser ligeiramente inferior a julho de 2005, ele está acima da média histórica, que é de 34 pontos porcentuais.

Com o aquecimento do ritmo da indústria, diminuiu de 20%, em abril, para 8%, em julho, a parcela de empresas que pretende diminuir preços. "A inflação deste trimestre será mais alta que a registrada em períodos anteriores, mas não será preocupante", diz o coordenador da pesquisa.

Apesar do prognóstico otimista para o semestre, os empresários continuam insatisfeitos com a situação atual dos negócios. A sondagem mostra que 16% das empresas consideram boa a situação atual e 27%, fraca. A diferença de 11 pontos porcentuais negativos é menor que a obtida em julho de 2005, mas abaixo da média histórica, que é 7 pontos negativos. "O resultado não é tão satisfatório", diz Campelo Jr.

Para o economista, a insatisfação com a situação atual dos negócios mostra que as empresas estão crescendo, produzindo mais, porém ainda têm de conviver com fatores adversos, como câmbio baixo e taxas de juros elevadas. "Esses fatores devem afetar a lucratividade das indústrias", pondera.