Título: Novo poço ainda é só uma promessa
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

A jazida de óleo leve - de maior valor comercial - descoberta esta semana pela Petrobrás na Bacia de Santos, mesmo que revele a existência de petróleo suficiente para garantir financeiramente sua extração, só poderá entrar em produção depois de 2010. Até lá, terão de ser perfurados novos poços em áreas próximas, para obter a exata dimensão da reserva. Depois disso, um estudo ambiental garantirá a operação e uma fase de desenvolvimento, que deve levar de três a quatro anos, vai preparar o campo para o início da produção.

A principal dificuldade é desenvolver tecnologia para extrair petróleo a profundidades entre 5 mil e 6 mil metros. Até 2011, a Petrobrás vai investir, pelo menos, US$ 1,5 bilhão em pesquisas. Parte desses recursos está sendo aplicada no programa que estuda sistemas em águas ultraprofundas, a 3 mil metros de lâmina d'água (distância entre a superfície e o solo). Além dessa profundidade, os equipamentos perfuram mais de 2 quilômetros de subsolo, atravessando rochas de sal.

"O grande desafio da Petrobrás é desenvolver sistemas submersos para esse tipo de exploração. As plataformas que serão usadas não terão diferença em relação às que já operam na Bacia de Campos, por exemplo. A diferença está na tecnologia de poço, que terá de ser desenvolvida", explica o professor Edmar Fagundes de Almeida, do Grupo de Energia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ele coordenou estudos que apontam para um pico de anúncios de descoberta este ano, em 2007 e 2008. Nesse período vencem as concessões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para exploração nas áreas licitadas nos dois primeiros leilões feitos no País. "Estimamos que vai haver uma concentração de decretação de comercialidade (viabilidade financeira de produção) de campos que, caso contrário, teriam de ser devolvidos para novas licitações."

Os blocos da Bacia de Santos foram a vedete da segunda rodada da ANP, em 2000, especialmente por estarem próximos ao Campo de Mexilhão, onde a Petrobrás acabara de anunciar a descoberta de uma megajazida de gás. Cinco blocos foram arrematados e em dois foram declaradas descobertas. A desta semana foi no bloco Bacia Marítima de Santos-11 (BMS-11), operada pela Petrobrás, pela britânica BG e pela portuguesa Petrogal. Já havia sido encontrado óleo no BMS-10, operada pelo consórcio Petrobrás, BG e a portuguesa Partex.

As descobertas encerram duas boas notícias para o mercado: a confirmação da existência de uma nova fronteira de exploração de petróleo no País e o encontro de óleo leve. Ao contrário do petróleo extraído em Campos, a maior bacia produtora brasileira, o óleo achado no subsolo de Santos assemelha-se em qualidade ao valorizado petróleo árabe, claro, fino, leve, de alto grau API (medida internacional de qualidade), que os especialistas chamam de "quase um diesel". O custo de refino é bem mais baixo do que o do escuro e pesado petróleo de Campos.

"Essas descobertas abrem uma perspectiva nova de exploração no Brasil, com rejuvenescimento da Bacia de Campos", diz o professor Almeida. Ele acredita que Campos também esconda jazidas abaixo da camada de rochas de sal. Há anos, geólogos se dividem em duas correntes: uma que considera desperdício o esforço de perfuração abaixo das camadas de sal e outra que acredita na existência de uma bacia petrolífera em subsolos mais profundos.

Os resultados obtidos pela Petrobrás em bacias de grande profundidade - que dotou a estatal de expertise copiada por outras empresas do mundo - encorajaram a companhia a criar programas tecnológicos específicos para o setor a partir de 1986. Começou com mil metros; sete anos depois, passou a desenvolver sistemas de 2 mil metros de lâmina d'água e, em 2000, de 3 mil metros.