Título: Lula reafirma solução negociada no preço do gás
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, em entrevista publicada ontem no diário britânico Financial Times, que seu governo continua firme na busca de uma solução negociada para a crise do gás boliviano, iniciada com a nacionalização da produção e das reservas dos hidrocarbonetos no país, em maio deste ano.

"A classe brasileira conservadora queria que começássemos uma guerra contra a Bolívia", disse Lula. "Eu nunca estive nervoso com a crise e prefiro negociar uma solução."

Segundo o presidente, a Bolívia precisa vender gás ao Brasil e o Brasil precisa comprar gás da Bolívia. "Um precisa do outro", observou ele.

A Bolívia fornece ao Brasil 26 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, cerca da metade do consumo brasileiro e 80% do consumo do Estado de São Paulo, o maior centro industrial do País e da América Latina.

Em junho, logo após a nacionalização do petróleo e do gás, a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) informou à estatal brasileira Petrobrás que pretendia aumentar o preço do gás fornecido ao Brasil. A Petrobrás recusou a proposta imediatamente, mas concordou em discutir o tema.

Foi fixado, então, um prazo de 45 dias para a conclusão das negociações, antes de o assunto ser levado para a arbitragem da Corte Internacional de Nova York, como prevê o contrato assinado entre a Petrobrás e YPFB nos anos 90. Até agora não houve acordo e ontem as duas partes reiniciaram as negociações.

A Petrobrás paga atualmente US$ 4 por cada milhão de BTU (unidades térmicas britânicas, na sigla em inglês). O governo boliviano acha pouco e quer o preço na base de US$ 5 por milhão de BTU. Esse é o preço acertado com o governo da Argentina, o segundo maior importador do gás boliviano, depois do Brasil. Esse é o valor que os argentinos pagam desde o dia 15 de junho, que será renegociado no fim do ano.