Título: Transpetro vai gastar US$ 2,48 bi
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2006, Economia & Negócios, p. B9

A Transpetro concluiu sua licitação para a construção de 26 navios, gastando o dobro do que previa inicialmente. No total, serão investidos US$ 2,48 bilhões nos petroleiros que substituirão embarcações próprias prestes a se aposentar.

O custo final, porém, teve redução de US$ 362 milhões em relação às propostas iniciais apresentadas pelos licitantes. A maior economia foi com a encomenda de dez navios do tipo Suezmax - os de maior porte -, cuja negociação foi anunciada somente ontem.

O Consórcio Atlântico Sul, composto pelas construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão e pelo estaleiro Aker Promar, reduziu o valor médio do navio Suezmax de US$ 141 milhões para US$ 120,9 milhões. No total, os dez navios sairão por US$ 1,2 bilhão - o primeiro custará à Transpetro US$ 127 milhões e o último, US$ 116 milhões. Os vencedores dos outros quatro lotes já haviam encerrado as negociações em maio, com uma redução de 16,24% nos custos.

O "desconto", segundo o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, foi obtido a partir de adaptações nos projetos, redução do custo de mão-de-obra e ainda um corte de 20% no valor do aço. Machado afirmou ainda que as 26 embarcações terão seu preço médio apenas 1% acima de navios semelhantes construídos fora do Brasil.

Segundo ele, esta conta é possível por causa da "equivalência financeira" resultante de condições mais favoráveis ao financiamento de empresas nacionais. No exterior, o financiamento a estaleiros tem juros de 6,5% ao ano e prazo de dez anos para pagamento. No Brasil, este prazo dobra e os juros anuais caem para 2,5%.

"Esta equivalência tem de ser considerada, porque se tivéssemos comprado o navio lá fora não poderíamos financiar com as mesmas condições que aqui geram emprego e renda", explicou, refutando a idéia de subsídio. A expectativa é de que sejam criados 15 mil empregos. Cada navio terá um conteúdo nacional mínimo de 65%.

O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, criticou o resultado da licitação da Transpetro. Segundo ele, a licitação "é uma forte agressão à economia local e uma afronta a todas as práticas de licitação deste tipo".

Victer argumentou que na primeira vez que a Transpetro realizou licitação para petroleiros Suezmax, em 2001, o Estaleiro Eisa do Rio de Janeiro foi o vencedor, apresentando uma proposta de US$ 75 milhões para cada Suezmax. A licitação foi cancelada porque o Eisa não apresentou garantias para obter o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Desta vez, o preço apresentado pelo Consórcio Atlântico Sul - que ainda será construído no porto de Suape - foi de US$ 120,9 milhões para cada Suezmax.

"O resultado é absurdo. A redução do número de concorrentes e a permissão de fusões deixaram o Grupo Atlântico Sul com proposta única para este tipo de navio, favorecendo escancaradamente este estaleiro virtual".

Machado rebateu as críticas de Victer, dizendo que os preços do Eisa em 2001 consideravam outra realidade mundial. "Se pudéssemos congelar o tempo, voltaríamos àquele em que o preço do aço estava mais baixo e a indústria naval no mundo não estava tão aquecida e com custos tão elevados."