Título: Se reeleito, Lula vai fechar portas do governo a companheiros do PT
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2006, Nacional, p. A8

Se eleito para o segundo mandato, Luiz Inácio Lula da Silva planeja promover uma "despetização" da equipe ministerial, concretizando o tão chamado governo de coalizão com os aliados. Nas eleições de 2002, Lula abriu enorme espaço no governo para petistas derrotados em campanhas regionais. Nomeou 20 petistas em 2002 para sua equipe ministerial, chegando ao exagero de inventar uma pasta da Pesca apenas para alojar José Fritsch, candidato derrotado em Santa Catarina.

A idéia de Lula é que no próximo mandato petistas derrotados nas eleições, salvo casos especiais, sejam apenas isso: candidatos derrotados. Para aliados, Lula já disse que seu governo enfrentou problemas para decolar no primeiro ano e ele não tem dúvidas que isso ocorreu porque o ministério ficou inchado demais com companheiros de partido que ganharam pastas mas não eram adequados para tocar a máquina.

Agora, o plano é que os petistas ocupem as chamadas pastas da cozinha do governo, como Casa Civil, Fazenda, Planejamento, Relações Institucionais, Defesa e Secretaria de Governo. Fora isso, os espaços do PT serão limitados. Patrus Ananias continua no Desenvolvimento Social porque o programa Bolsa-Família é peça estratégica na ação do governo. Marina Silva fica no Meio Ambiente e Miguel Rossetto pode voltar ao Desenvolvimento Agrário se perder a eleição ao Senado.

Fora disso, os espaços ficarão restritos aos escalões mais baixos. A conta dentro do Planalto é que as vagas do primeiro escalão para o PT não ultrapassem oito ou nove lugares, menos do que a metade de 2003.

E, no primeiro ano de governo, não faltaram postos para petistas que perderam eleições. Cinco candidatos do PT a governos viraram ministros: Benedita da Silva (RJ) foi para a Ação Social, Jaques Wagner (BA) para o Trabalho, Tarso Genro (RS) para o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social, Nilmário Miranda (MG) para Direitos Humanos e Fritsch para a Pesca. José Eduardo Dutra, derrotado em Sergipe, ficou com o cobiçado comando da Petrobrás. Outros três petistas que concorreram ao Senado também foram abrigados. Emília Fernandes (RS) ficou com a pasta das Mulheres, Waldir Pires (BA) ocupou a Controladoria-Geral da União (CGU) e Tilden Santiago (MG) ganhou a embaixada do Brasil em Cuba.

Na futura divisão, existe um roteiro para acomodar os aliados de outros partidos, concretizando a coalizão. No início do ano, Lula comunicou a seus principais auxiliares que o PMDB será seu grande parceiro no segundo governo. Até porque previsões internas do Planalto indicam que a bancada do PT no Congresso deverá se reduzir e o governo precisará, mais do que nunca, do apoio de outros partidos para aprovar propostas. Como deve ter a maior bancada no Congresso em 2007, o PMDB foi a escolha natural nessa parceria.

O plano para o PMDB é que ele possa passar para algo em torno de cinco ou sete pastas. Manteria as duas atuais (Comunicações e Minas e Energia), reocuparia Saúde e ganharia outras, como Integração Nacional, Cidades, Previdência e Justiça. Justiça é um caso especial. O ministro Márcio Thomaz Bastos já avisou que não continua no segundo mandato. Se mudar de idéia, fica. Se não, a pasta pode ficar com o PMDB.

O PP ficaria com Agricultura, já que o partido, ao contrário do PMDB, possui ampla bancada ruralista. Outros aliados, como PSB, PCdoB, PL, PV e PTB ficarão restritos a um ministério. PSB deve manter Ciência e Tecnologia; PV, Cultura; PTB, Turismo; PCdoB, Esportes e PL, Transportes.

Algumas pastas devem ter soluções técnicas, como Educação, onde Fernando Haddad deve ser mantido. Embora seja filiado ao PT, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, é considerado cota do movimento sindical no governo e deverá continuar na função.