Título: Jingle-forró mostra Lula como Getúlio do século 21
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2006, Nacional, p. A8

Humilde, carinhoso, predestinado, defensor do povo. A imagem do presidente Lula tal como é descrita no jingle da campanha à reeleição, um baião-forró chamado Deixa o Homem Trabalhar, é o retrato da atual fase do petista - descolado da crise política e cada vez mais próximo das camadas populares.

Aprovado pelo próprio Lula, o jingle associa a reeleição a uma vontade de Deus e apresenta o presidente como um "pai dos pobres", encarnando um Getúlio Vargas do século 21. A letra não cita o PT, devastado pelo escândalo do mensalão.

"É um jingle puramente eleitoreiro, pela continuidade. Perdeu a história política que havia em outros jingles do PT, como o Lula lá. É um convite para dançar com o presidente, continuar o baile", critica o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio (Iuperj), especialista no estudo de persuasão eleitoral.

O autor do jingle é Lázaro do Piauí, 51 anos, economista, nascido em Teresina, que deixou o emprego no Sebrae há 15 anos para se dedicar ao forró. Já compôs jingles para vários partidos, mas ficou surpreso ao ver sua música aprovada no PT.

Ele conta que escreveu a letra por conta própria e pediu a um amigo petista que mostrasse ao comando da campanha, em Brasília. O jingle estreou na convenção do PT que oficializou a candidatura de Lula, no dia 24. Ex-jogador do juvenil do Olaria, no Rio, no início dos anos 70, Lázaro trocou o futebol pela música depois de conhecer Garrincha e a cantora Elza Soares, mulher do craque.

Lázaro afirma que não se inspirou no populismo de Vargas nem quis dissociar Lula do PT. "Eu quis criar uma identificação do povo com a vontade de que ele continue companheiro da gente", diz. O jingle diz: "A voz de Deus é a voz do povo/ Olha Lula aí de novo" e "Tá tudo andando direitinho/ Deixa o homem trabalhar/ Ele trata o povo com carinho."

"Como o PT está erodido, sobra a Lula o apelo popular", diz o cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas (UFMG). Ele identifica um "ponto de contato" entre Lula e Vargas: "O eleitor popular se orienta em função de uma visão singela entre popular e elitista, pobres e ricos. Mas a grande diferença é que Lula tem origem popular e Getúlio não." A campanha petista terá um segundo jingle, explicou o secretário-adjunto de Comunicação, Francisco Campos.