Título: Lula garante que novo ministro não 'vai fazer marola'
Autor: Fabíola Salvador e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

Próximo ao PT e favorável à reforma agrária, o novo ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, não vai provocar uma revolução no campo a seis meses do fim do mandato do presidente Lula. "Não se prevê nenhum movimento brusco, nenhuma guinada", disse um auxiliar de Lula, ao expressar a orientação dele para que "não se crie marola com nenhum setor" às vésperas das eleições.

A tarefa de Guedes é reconstruir o diálogo com os agricultores, que se ressentem da falta de sensibilidade do governo no equacionamento de problemas estruturais do setor. Logo após assumir o cargo na segunda-feira, ele pretende convocar as lideranças rurais para uma conversa amistosa sobre sua gestão no ministério.

Embora a oposição tente carimbá-lo como radical, ele não é nada disso. "Guedes é um moderado pragmático", define o colaborador de Lula. O presidente aposta no bom trânsito do novo ministro com os produtores e na sua capacidade para afastar temores de que sua gestão significa o primeiro passo para uma ação mais radical do governo na execução da reforma agrária, nos próximos meses.

A ascensão de Guedes ao cargo seguiu, unicamente, a preocupação de Lula de não tornar ministro, neste momento, alguém que não pudesse ser substituído num eventual segundo mandato. Foi por isso que a sucessão de Rodrigues não confirmou as especulações de que o ministério seria entregue ao PMDB ou ao PP, como garantia do reforço da aliança com esses partidos no segundo mandato. Prevaleceu o critério técnico, o mesmo observado para as trocas dos ministros que se afastaram do cargo para concorrer às eleições de outubro.

O governo está convencido de que essa foi a melhor escolha e aposta que Guedes saberá contornar os dissabores dos agricultores sem se irritar tanto com o governo como o ex-ministro Roberto Rodrigues. Ao longo de três anos e meio, Rodrigues nunca escondeu a irritação com os atrasos e cortes de verbas do ministério e o desconforto com a pressão que sofria por parte dos agricultores para ser mais combativo com a equipe econômica. Até nesse sentido o novo ministro entra com uma vantagem sobre Rodrigues: assume o cargo com a garantia da liberação de R$ 42,6 milhões para financiar o seguro rural e a promessa de mais dinheiro, se necessário.

O novo ministro atuará em várias frentes. A primeira é não provocar um desmonte no ministério. Ele deve manter os secretários e assessores que trabalharam com Rodrigues. Faltando apenas seis meses para o fim do mandato de Lula, a opção é "tocar o barco", como comentou um assessor.

SINAL

A preservação da equipe será ainda um sinal de que não haverá mudança drástica na condução da política agropecuária. O único cargo vago é a própria Secretaria Executiva, que ele deverá definir esta semana. Entre os nomes citados para o cargo está o do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Jacinto Ferreira.

Guedes disse a Rodrigues, na quinta-feira, quando seu nome estava sendo cotado, que se não fosse chamado por Lula para ocupar o ministério, gostaria de deixar o governo. Ele foi uma das primeiras pessoas a quem Rodrigues comunicou o pedido de demissão e, também, a indicação para substitui-lo.

Além do trabalho dos secretários e assessores, Guedes aposta nas câmaras setoriais para manter o diálogo com a iniciativa privada.